A sinestesia do título anuncia um desafio sensorial. Substituir a visão, de que a pluralidade cromática é um paradigma, por outros sentidos, nomeadamente a audição, parece algo da ordem do poético. E é. À semelhança de outros álbuns, o autor de Taiwan insiste num mundo onírico que oscila entre o fantástico e o fantasmático para suportar angústias emocionais, afetivas e existenciais. Aqui, a narrativa acompanha a experiência reveladora de uma rapariga que, aos 15 anos, se vê definitivamente privada da visão e decide partir numa viagem de metro pela cidade. A descoberta de si e a redescoberta do mundo passam precisamente pelo desconhecido e pela busca de novos pontos de orientação, imagens sensoriais plenas de estímulos e suspensões, no ritmo cadenciado do texto, que se contrapõe às ilustrações detalhadas e profusas. O que vemos, a protagonista apenas pressente, ou talvez não. O vazio que se estabelece entre a projeção da nossa experiência de leitores, que só acedem ao objecto porque vêm e a experiência da cegueira alimenta toda a viagem. Porque nós não lho podemos dizer e ao invés não acedemos por completo à decifração poética do não dito e do representado. É por tudo isto uma obra singular, de um autor singular, a partir de um tema muito pouco pensado e trabalhado.

Palavras-chave: ilustração, cegueira, auto-conhecimento, viagem, poesia

Se gostaste, experimenta...

Noite estrelada, Jimmy Liao, Kalandraka

O livro negro das cores, Menena Cottin, Rosana Faria, Bruaá

Flor de Mel, Alice Vieira, Caminho

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