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Um livro por semana
Um livro infernal
“A ociosidade própria de um passageiro, o meu isolamento no meio de todos aqueles homens com os quais não tinha afinidades, o mar untuoso e lânguido, a tétrica uniformidade da costa, tudo isso parecia manter-me alheado da realidade das coisas, preso na teia de uma alucinação lúgubre e insensata. A voz da ressaca, ouvida de vez em quando, era um prazer real, como uma palavra fraterna. Era uma coisa natural, que tinha fundamento, que fazia sentido, De quando em vez, um barco vindo da costa proporcionava um contacto momentâneo com a realidade. Eram impulsionados a remas por negros. Via-se de longe o branco dos seus olhos a luzir. Gritavam, cantavam; os corpos escorriam suor; os rostos lembravam máscaras grotescas; mas aqueles sujeitos tinham, osso,músculo, um vigor selvagem, uma intensa energia de movimentos, que era tão natural e autêntica como a espuma da rebentação ao longo da sua costa. Não precisavam de um pretexto para ali estarem. Era reconfortante olhar para eles. “ in Coração de Trevas (Relógio D´Água, 2012)
“Joseph Conrad nasceu na Ucrânia a 3 de dezembro de 1857, filho de pais polacos, exilados devido a atividades políticas. Conrad ficou órfão de pai aos onze anos, tendo sido deixado ao cuidado de um tio materno que exerceu grande influencia sobre ele.
The Secret Polish History of Joseph Conrad
“A chalupa Nellie rodou em torno da âncora sem um bulir das velas e imobilizou-se. A maré enchia, o vento quase não soprava,e, sendo o nosso rumo rio abaixo, só nos restava esperar pelo refluxo da maré. O troço final do Tamisa estendia-se diante de nós como se fosse a embocadura de uma via aquática interminável. Ao largo, mar e céu fundiam-se sem uma sutura, e no espaço luminoso as velas crestadas dos batelões que subiam o rio ao sabor da maré pareciam imobilizadas em cachos rubros de telas pontiagudas, com cintilações de verniz. Um véu de neblina repousava sobre as margens baixas, que corriam para o mar numa planura a perder de vista. O ar sobre Gravesend estava escuro, e mais atrás a quietude parecia ensimesmada numa lúgubre caligem, cismando, inerte, sobre a maior e mais ilustre cidade do mundo. in Coração de Trevas, (Relógio D´Água, 2012)
"Não há referência a tempo histórico. É como se o livro não fosse marcado pelo tempo e por isso lhe sobrevive", afirma Pedro Adão e Silva, professor e sociólogo, sobre o livro Coração de Trevas.
“«Até ao derradeiro instante», afirmei, vacilante. «Ouvi as suas últimas palavras…» Calei-me, aterrorizado.
“Um romance assombroso que nos mergulha nas profundezas da sela africana e do turvo coração humano. Kurtz resume-o na perfeição: “O horror! O horror! “ Aqui levanta-se o véu do inferno colonial, dissecando-se os limites da experiência humana. O que é ser selvagem? Pode a literatura, a narrativa, a linguagem, a descrição, a força da metáfora sugerir e aprisionar o que é indizível e convulso há na experiência espiritual e física do estado selvagem? Pode! Conrad e Coração das Trevas podem. in Coração das Trevas (Editora Guerra e Paz, 2017)
Heart of Darkness by Joseph Conrad // animated book summary
O Coração de Trevas é uma referência na literatura mundial, tem sido inspirador na ópera, no cinema, na música e na rádio, numa transmissão da CBS Radio em 6 de novembro de 1938, como parte de sua série, The Mercury Theatre on the Air, por Orson Welles.
Apocalypse Now - The Doors, The End (1979)
São muitas, e muito variadas, as transposições da escrita de Joseph Conrad para o cinema — Apocalypse Now é, obviamente, uma referência incontornável, mas importa não esquecer alguns títulos admiráveis como Lord Jim. Sob o signo de Joseph Conrad, é uma homenagem da RTP ao escritor e aos filmes inspirados nos seus livros.
“Bastante mais terrível [que o Inferno de Dante] é o de Coração de Trevas, o rio de África que o capitão Marlow sobe, entre margens de ruínas e de selvas e que pode muito bem ser uma projeção do abominável Kurtz, que é a meta. Em 1889, Teodor Josef Konrad Korzeniowski subiu o Congo até Stanley Falls; em 1902, Joseph Conrad, hoje célebre, publicou em Londres Coração de Trevas talvez o mais intenso dos contos elaborado pela imaginação.“ – afimou Jorge Luis Borges
Coração de Trevas adaptado por Peter Kuper
Artistas novaiorquinos ilustram O Coração das Trevas, leia o artigo de Chris Hewitt.
O jornal The Guardian dedica um artigo ao romancista Joseph Conrad.
Heart of Darkness - Coração das Trevas - foi originalmente publicado como uma história de três partes pela revista Blackwood
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