“No Outono de 2017, o Guardian propôs-me que escrevesse para as suas páginas uma coluna semanal. Senti-me lisonjeada e, ao mesmo tempo, assustada. Nunca fizera uma experiência desse género e receava não ser capaz. Depois de muitas hesitações, fiz saber à redacção que aceitaria a proposta se me fosse enviada uma série de perguntas, a cada uma das quais, por sua vez, eu responderia respeitando os limites do espaço que me fosse fixado.” (A Invenção Ocasional, Relógio d’ Água, 2019).
O resultado deste convite foi A Invenção Ocasional, que reúne meia centena de textos, uma polifonia de temas. Fala da mãe e das filhas. Numa prosa ironica comenta todo o tipo de mentiras, o silêncio, as reticências e os pontos de exclamação. Fala da urgência da escrita, filmes e das novidades literárias. As plantas que ama, mais do que os gatos, são uma paixão partilhada neste pequeno grande livro de crónicas.
“Não tenho a obsessão de me sentir informada sobre tudo o que acontece no mundo. Em mais nova limitava-me a passar os olhos por alguns títulos de jornal e via o noticiário televisivo sem qualquer continuidade. Foi o crescente interesse pela política, que explodiu por volta dos vinte anos, que me impeliu a acumular notícias. Tinha a impressão de ter vivido até esse momento de maneira distraída e tive medo de vir a viver a minha vida sem me dar conta sequer dos desastres, dos horrores à minha volta.”
“Para mim ser italiana esgota-se no facto de falar e escrever em língua italiana. Dito assim parece pouco, mas é realmente muitíssimo. Uma língua é um compêndio de História, de Geografia, de vida material e espiritual, de vícios e virtudes não só de quem fala, mas também de quem falou ao longo dios séculos. As palavras, a gramática, a sintaxe são um cinzel que esculpe o pensamento. Para já não falarmos da tradição literária, extraordeinária refinaria da experiencia em bruto em actividade há séculos e séculos, reservatório de inteligência e de técnicas expressivas, que me orgulho de ter por origem e que me formou.”
No livro A Invenção Ocasional cada crónica é acompanhada por uma magnifica ilustração de Andrea Ucini.
Elena Ferrante é atualmente a escritora italiana mais popular no mundo inteiro. A sua identidade é um mistério. Talvez tenha nascido em Napóles, não se sabe. Nunca ninguém viu o seu rosto nem sabe onde reside, apenas se conhecem os seus livros. A “febre” de Ferrante começou com a publicação da tetralogia A Amiga Genial, em todo o mundo se fala sobre a escritora e os seus livros.
Elena Ferrante: em entrevista rara, autora comenta o processo de escrita da tetralogia napolitana. Leia aqui.
“Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia”: Elena Ferrante está de volta. Leia mais no Jornal Expresso.
O novo livro de Elena Ferrante - A Vida Mentirosa dos Adultos - já tem tradução portuguesa assegurada pela Relógio d’Água e vai ser uma série na Netflix. Leia tudo aqui.
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