|
Título: Antónia Ferreira : a desenhadora de paisagens Autor: João Paulo Cotrim Ilustrador: Rui Pedro Lourenço Editor: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Pato Lógico
|
A maior viticultora do Douro do século XIX é Dona Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha, “um nome importante, ou não se escrevia dona assim por extenso, tantos anos depois”.
“São como as uvas, as palavras. Refrescam-no, matam-nos a fome. Trazem-nos cor e um pouco de doce.” Elegantes palavras que iniciam a narrativa sobre Dona Antónia Ferreira uma mulher com uma energia forte, corajosa, determinada e empreendedora. Dedicada à terra. Ampliou as plantações, cuidou das uvas e quando o “Douro estava doente e a ser abandonado por muitos “ foi persistente e inovadora. Sobreviveu às pragas, tornando-se cada vez mais vigorosa e conhecedora dos segredos do néctar do Douro. “ Não são todos iguais, os vinhos. Há fortes e há leves. Doces e verdes. Rubi e branco. Se uns têm sabor a madeira, outros perfumes de frutos.”
O amor pelo primo António Bernardo não lhe deu tantas alegrias como sonhara. Duas personalidades distintas. Dona Antónia uma mulher da terra que “ não vai mais longe do que o Porto, afinal onde o rio acaba, António Bernardo Ferreira adora as grandes capitais do mundo e passará a curta vida em longas viagens.” Após a viuvez, o desgosto, o terror e a perda, Dona Antónia renasce das cinzas. A viticultora aplica as mais modernas técnicas de construir e organizar e assim “ acrescenta aos mapas um território que não existia, sairá um dos vinhos mais famosos, o Barca Velha.”
O amor está de volta. Silva Torres, segundo marido de Dona António, compreendeu a paixão pelas uvas, vinhas e vinho, acompanhou-a na dedicação ao negócio.
É no Douro, sempre no Douro, que Dona Antónia prefere estar. Todos os dias percorria a terra para apreciar as vinhas. Os negócios eram favoráveis, “a Ferreirinha tinha uma fortuna colossal: as suas vinhas produziam 1500 pipas.” A vida social, a mundanidades e a ostentação não lhe interessa. Para além da sua paixão o que verdadeiramente lhe interessa é ajudar os mais pobres.
Aos 84 anos, a 26 de março de 1896, ouviu-se “"o último suspiro da mãe dos pobres, como lhe chamam na sua linguagem simples a gente do povo, logo o Douro se tornou o centro do mundo. São como uvas as palavras. Naquele tempo, costumava dizer-se que a mulher era a senhora da casa. Dona Antónia foi senhora de um mundo. (…) Dona de um destino. Dona de um nome.”