“O sonho americano assenta noutro dos mitos fundadores da América, o individualismo. Se o sonho falha, é porque o individuo falha. E todo o sistema político americano está assentado na glorificação do individuo que, no entanto, não ensina a lidar com o erro. Quando Barack Obama, por exemplo, disse que a América é suficientemente grande para abarcar os sonhos de todos os americanos, estava a falar de um país grande e rico onde isso é possível. Mas onde isso não existe, de facto. Falava do sonho.“
Viagem ao sonho Americano (Companhia das Letras, 2017) convida-nos a percorrer os Estados Unidos a partir da sua literatura.
“No final de Fevereiro de 2016, saí de Lisboa com a missão de percorrer os Estados Unidos a partir da sua literatura. Elegera 16 romances de partida para 12 reportagens: Uma por mês durante um ano, no jornal Público. Três delas tinham dois títulos como referência em vez de apenas um. A proposta era fixar-me nessa espaço entre ficção e realidade para falar de um país num momento de mudança. No resto, seria guiada pelo acaso. Andei a pé, de carro, avião, autocarro, comboio. Trabalhei a partir de todos esses lugares como se estivesse em minha casa em Lisboa. “
Comunidade Cultura e Arte diz-nos que Viagem ao Sonho Americano é uma fantástica viagem através de livros fundamentais na literatura americana.
“Em 1996 David Foster Wallace escreveu um romance sobre a América num futuro próximo, um mundo dominado pelo digital e pela perseguição obsessiva do entretimento. É uma epopeia alucinante. Há uma nação e, nela, a tristeza dos homens sozinhos. A Piada Infinita faz 20 anos: o futuro é agora.”
Em Viagem ao Sonho Americano (Companhia das Letras, 380 págs.), a jornalista Isabel Lucas parte da convicção de que “está tudo na literatura”: “Daí esta viagem ser a partir de livros que levam a outros livros”. Leia na Revista Visão.
“Passaram quase 50 anos desde que Roth levou essa voz para a sua ficção e quase 20 desde que publicou Pastoral Americana. «Nada nunca mais em Newark» é como um eco, uma maldição. A cidade fica a uns 20 minutos do centro de Manhattan de comboio. De carro nunca se sabe. São 25 quilómetros que significam muito mais do que mudar de estado. Com 282 mil habitantes – menos 40% do que que em 1930 – é a cidade mais populosa de New Jersey e uma das mais multi-étnicas do país. Perdeu parte da população depois dos riots de 1967. No Bairro Sul, nas zonas residenciais, durante todo o ano seguinte havia duas carrinhas de mudança por dia em todas as ruas, proprietários de casas a fugirem, a abandonarem as modestas habitações que vendiam como podiam.”
Durante um ano, Isabel Lucas, jornalista e crítica literária, foi publicando no Jornal Público o produto das suas reportagens, que agora veem a luz sob a forma de livro: Viagem ao Sonho Americano.
“De Manhattan a New Bedford - o percurso feito por Ismael no início do livro de Melville – são 335 quilómetros. De carro, sem transito, percorrem-se em menos de quatros horas, seguindo pela I-95, estrada sempre junto à costa, que ganha um encanto especial no Outono, com a exuberante paleta de cores das copas das árvores, entre o vermelho e o castanho, num contraste com o azul do oceano, das baías e dos lagos e lagoas por onde passa, cruzando os estados de Nova Iorque, Connectticut e Rhode Island até chegar ao Masschusetts.“
No fim de cada capítulo, a autora partilha com o leitor, um Travel Log com breves impressões ou histórias de viagem.
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