Prémio Internacional Man Booker 2018
Finalista do National Book Award 2018
«Viagens tem ecos de W. G. Sebald, Milan Kundera, Danilo Kiš e Dubravka Ugrešic, mas Tokarczuk domina um registo, rebelde e habilidoso, muito seu.»
The Guardian
“Não há melhor companheiros de viagens nestes tempos turbulentos e carregados de fanatismo”
The Guardian
Em 2019, Olga Tokarczuk foi distinguida pela Academia Sueca com o Prémio Nobel de Literatura pela sua «imaginação narrativa, que com uma paixão enciclopédica representa o cruzamento de fronteiras como forma de vida»
“O coração de Chopin é secretamente levado de volta para Varsóvia pela sua irmã; uma mulher vê-se obrigada a regressar à Polónia para envenenar o seu primeiro amor, moribundo numa cama; um homem começa a enlouquecer quando a mulher e o filho desaparecem misteriosamente, apenas para, do mesmo modo, reaparecerem subitamente - através destas e outras histórias e personagens, brilhantemente relatadas ou simplesmente imaginadas, Viagens explora, ao longo dos séculos, o significado de se ser um viajante, um corpo em movimento, não apenas através do espaço, mas também do tempo.
De onde provimos? Para onde vamos ou regressamos?
Fascinante, intrigante e de uma originalidade rara, este livro é uma resposta sublime a todas estas questões, uma teia de reflexões que entretece ficção, memória e ciência. Uma exploração profunda sobre o corpo humano, a vida que surge, a morte e o movimento, levando-nos ao âmago do próprio significado de humanidade.“
in Viagens (2019), ed. Cavalo de Ferro
“Olga Tokarczuk nasceu em Sulechów, uma pequena cidade polaca, em 1962. Formada em Psicologia, publicou o seu primeiro livro em 1989, uma coletânea de poesia intitulada Miasta w lustraché, seguindo-se os romances E. E. e Prawiek i inne czasy, tendo sido este último um sucesso.
A partir daí, a sua prosa afastou-se da narrativa mais convencional, aproximando-se da prosa breve e do ensaio. Uma das melhores e mais apreciadas autoras de hoje, a obra de Olga Tokarczuk tem sido alvo de várias distinções, nacionais e internacionais. Recebeu por duas vezes o mais importante prémio literário do seu país, o Prémio Nike; em 2018, foi finalista do Prémio Fémina Estrangeiro e vencedora do Prémio Internacional Man Booker. Os seus livros estão traduzidos em trinta línguas.”
in Viagens
Olga Tokarczuk - Discurso na entrega do Prémio Nobel
“A literatura dos guias turísticos tem causado grandes estragos, é como uma invasão, uma epidemia. Os guias destruiram para sempre a maior parte do planeta; publicados em milhões de exemplares, em diversas línguas, fragilizaram os lugares, alfinetando os seus nomes nos mapas, dando lhes rótulos e apagando-lhes os contornos.
E, na minha ingenuidade juvenil, também eu me dediquei a descrever lugares. Mais tarde, quando regressava em pensamento a esses lugares para respirar fundo o seu ar, imbuir-me novamente da sua intensa presença, escutar mais uma vez o som do seu burburinho, ficava em estado de choque. A verdade era terrível: descrever é destruir.
Por isso, é preciso ter muito cuidado. O melhor é não mencionar os nomes desses lugares, ser evasivo e indirecto, facultar os endereços com toda a cautela a fim de não incentivar as pessoas a fazerem peregrinações até esses lugares. O que haveriam de encontrar aí? Lugares mortos, muita poeira e caroços secos de maças.
No manual das síndromes, que mencionei, encontra-se a Síndrome de Paris, que afecta principalmente os turistas japoneses que visitam a Cidade das Luzes. Caracteriza-se por ser um choque emocional com vários sintomas físicos, tais como falta de ar, taquicardia, transpiração e excitação. Por vezes, ocorrem alucinações. Em casos como estes, prescrevem-se calmantes e aconselha-se o regresso a casa. Estes distúrbios são explicados pela disparidade das expectativas dos peregrinos: cidade de Paris à qual chegam em nada faz lembrar a cidade que conhecem dos guias turísticos, dos filmes e da televisão.”
in Viagens
“Jasmim era uma simpática mulçulmana com quem, certa vez, conversei todo o serão. Falou-me do seu projecto – queria encorajar todas as pessoas do seu país a escrever livros. Dizia que não era preciso muito para escrever um livro – bastava algum tempo livre depois do trabalho, e nem sequer era preciso ter um computador. Acreditava na possibilidade de uma dessas pessoas destemidas poder vir a ser autor de um best seller e, nessa altura, o seu esforço seria recompensado com promoção social. É a melhor maneira de sair da pobreza, dizia ela. Se ao menos todos lessem os livros uns dos outros, suspirava. Chegou a criar um fórum na Internet e, ao que parece, já contava com centenas de seguidores.
Quanto a mim, muito me agrada a ideia de tratar o hábito da leitura de livros como um dever moral e fraterno, face ao próximo.”
in Viagens.
“Cresci e evolui. No princípio, quando acordava em lugares estranhos, pensava que estava em casa. Somente após alguns instantes começava a reconhecer pormenores desconhecidos, revelados pela luz do dia. Os resposteiros pesados do hotel, o aparelho de televisão, a minha mala desfeita, as toalhas brancas dobradas com esmero. Um novo lugar emergia atrás do reposteiro, velado, misterioso, a maior parte das vezes, branco-sujo ou amarelado por causa dos lampiões das ruas.
Todavia, logo a seguir, entrei na fase que a Psicologia da Viagem designa como «Não sei onde estou». Acordava completamente desorientada. Tal como um alcoólico em transe, esforçava-me por recordar o que fizera no dia anterior, onde estivera, para onde me levaram os caminhos. Reconstruía detalhe após detalhe para reconhecer o aqui e o agora. E quando mais tempo precisava para este procediemnto especial, maos entrava em pânico, um estado desagradável semelhante à doença do labirinto dos sistema vestibular, à perda do equilíbrio e à sensação de náuseas. C’os diabos, onde estou eu? Mas os detalhes do mundo são compassivos e acabavam por me guiar para o caminho certo. Estou em M. Estou em B. Isto é um hotel, aquilo é a casa da minha amiga, o quarto de hóspedes da familia N., o sofá na casa de uns conhecidos.
Acordar assim era como carimbar o bilhete para prosseguir viagem.
A próxima etapa é a terceira, segundo a Psicologia da Viagem, é a etapa da viagem-chave, da viagem-coroa, aquela que constitui a meta final. Para onde quer que viajemos, viajamos sempre em direção a ela. «Não importa onde estou» Onde estou – tanto faz. Estou.“
in Viagens.
A convite do Europe Directo Região de Coimbra, e no âmbito da Rede Intermunicipal de Bibliotecas Municipais da Região de Coimbra (RIB RC), a Biblioteca Municipal Eng. Jorge Bento de Condeixa-a-Nova, apresenta-nos, como sugestão de Leitura, o livro Viagens de Olga Tokarczuk.
Viagens, de Olga Tokarczuk: filosofia nómada de deixar um local, uma história e partir sem preocupação é o título de artigo disponível no blogue Comunidade,Cultura e Arte.
Olga Tokarczuk, uma escritora que trabalha a História sem confiar na realidade - leia o artigo na íntegra.
Ouça um excerto de Viagens pela voz de Filipa Martins
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