Sobre o livro

Parece um sonho tornado realidade. Que criança não brincou imaginando-se com amigos numa ilha deserta, vivendo aventuras em total liberdade? Contudo, o que acontece na ilha selvagem que o escritor americano imagina em 1954 é bem mais profundo. O grupo de rapazes que sobrevive à queda do avião desde cedo manifesta impulsos emocionais de empatia e crueldade entre si. Golding não transforma crianças moralmente impolutas em seres violentos e perigosos. Não é preciso grande esforço do leitor para encontrar tensões, processos de liderança, manifestações de poder, expectativas defraudadas, confiança traída. O que Golding consegue de forma exímia é agudizar gradualmente as situações de conflito, que nascem da gestão de tarefas do grupo e se vão transformando em relações cada vez mais extremadas com o poder. As crianças começam por ter comportamentos facilmente reconhecíveis na sociedade, como o desprezo do líder forte pela figura gorda do rapaz frágil, apesar da sua inteligência pragmática e da sua genuína dedicação. A competição, a necessidade de mostrar virilidade, os medos secretos e a vergonha perante o grupo, a argumentação e a figura protectora, tudo se identifica, por exemplo, em qualquer turma. Quando o convívio permanente sem ponto de fuga e os conflitos levam à manipulação do grupo e à aniquilação do outro, o leitor implica-se, toma partidos, indigna-se. A alegoria dos valores sociais e políticos cumpre-se provando a actualidade desta obra do pós 2a guerra mundial. O único revés na leitura poderá ser a proliferação descritiva perante uma acção que avança devagar.

Palavras-chave
Poder, valores sociais, democracia vs autocracia, amizade, conflito

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