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Título: Assim mas sem ser assim Autor: Afonso Cruz Ilustrador: --- Editor: Caminho
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Quem lê o quê
A escrita de Afonso Cruz reconhece-se pelas constantes considerações de cariz filosófico sobre o risível. Aparentemente é estilo avesso aos mais novos. Provavelmente será, se considerarmos mais novos o público infantil. Já quando avançamos para os pré-adolescentes é possível que se encontrem as questões dos primeiros com as descobertas do segundo. A perspectiva irónica, silogística e até paradoxal ilumina o pensamento de Afonso Cruz provocando situações de comicidade, efeitos poéticos e conclusões desconcertantes.
Neste livro ilustrado um narrador de idade indeterminada traça retratos dos vizinhos a partir de uma aproximação vagamente sugerida pelo pai. Todos têm, aos seus olhos, características peculiares, da modelo anorética ao poeta anti-social, do homem que recicla lixo ao bailarino que anda descalço. Em todos há uma aura que se desvela através de associações inesperadas nas descrições do narrador ou através dos diálogos que estabelece. Como pode ser um pôr do sol visto com os pés? O desconcerto leva o leitor a fazer o exercício de mudar o seu ângulo de percepção e de raciocínio com efeitos de humor, surpresa ou espanto. As ilustrações, por seu turno, são bem mais óbvias nos detalhes ou situações que representam, ajudando ao processo de leitura pelo que destacam e até chegam a tornar literal. No final, este inventário que parece poder ser continuado em qualquer lugar, fecha-se inesperadamente numa mensagem social crítica e muito dura. Para que todos a entendam.
Palavras-chave
Aforismos, contradições, quotidiano, sociedade, humor
Outras leituras
A Contradição Humana, Afonso Cruz, Caminho
Esqueci-me como se chama, Daniil Harms, Gonçalo Viana, Bruaá
O Tigre na Rua e outros poemas, VVAA, Serge Bloch, Bruaá