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Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta
Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta
Bru Junça, Elsa Serra, Guilherme d’Oliveira Martins et al.

ISBN: 978-989-8421-60-9

Edição: junho de 2021

Editor: BOCA

N.º de páginas: 96

“(…) de onde vem esse teu gosto pela leitura em voz alta?

Ela responde:

- Da Escola.

Feliz por ouvir alguém reconhecer algum mérito à escola, exclamo satisfeito:

- Ah! Estás a ver?

Ela diz-me:

- De modo nenhum. Na escola proibiam-nos que lêssemos em voz alta. O credo da época era da leitura silenciosa. Directamente da vista ao cérebro. Transição instantânea, rapidez, eficácia. E de dez em dez linhas, um teste de compreensão. Desde o começo, era a religião da análise e do comentário. Muitos miúdos ficavam aterrorizados, e ainda estávamos no princípio! Se queres saber, todas as minhas respostas eram correctas, mas mal chegava a casa relia tudo em voz alta.

- Para quê?

- Para me maravilhar. As palavras pronunciadas começavam a ter existência fora de mim, tinham autêntica vida. “

Daniel Pennac, Como um Romance

 

Ler é bom! Muito bom! Dá-nos liberdade e poder.

Ler em voz alta é fonte de prazer. Dá vida às palavras, amplia-lhes o sentido.

Em silêncio, a pares ou em voz alta são algumas das formas possíveis de ler. Não importa como se lê, o que importa é ler, ler bem, com fluência, com gosto e entusiasmo. A leitura em voz alta requer treino, implica falar “quer em tom solene, quer em tom intimista, quer em tom declarativo, entre outros, permite dar vida nova ao texto escrito, ou melhor, libertar a vida que as mesmas palavras transportam.”

Historicamente, a leitura em voz alta está intimamente relacionada “com o surgimento da escrita há mais de cinco mil anos em regiões como a Mesopotâmia ou o Egipto”. Muitos dos textos produzidos ”destinavam-se a ser lidos em voz alta”, durante o período romano. Nas escolas, aprendia-se a ler e a escrever praticando a leitura em voz alta de textos antigos, desta forma valorizando a acessibilidade aos livros que começavam a encher as estantes das bibliotecas.  No espaço público (barbearias, tabacarias, cafés, entre outros), ler em voz alta “assumia-se como elemento de coesão social”. Se, por um lado, nos salões literários e filosóficos eram promovidas as tertúlias e as declamações de poesia, por outro lado, esta forma de ler permitia “o acesso aos conteúdos dos textos escritos por segmentos largos das comunidades não alfabetizados”, a “transmissão do património de saber humano, transversal a todas as culturas”. A democratização da leitura era efetiva!

Ler também é ouvir. Se ler em voz alta pressupõe ler devagar, articular bem as palavras, “ser económico e significante nos gestos”, respeitar o ritmo (fazer bem as pausas e os silêncios, e interpretar bem as interjeições), é bem certo que também supõe saber escutar. Na vida, em momentos melancólicos, de doença ou outros, há palavras que ecoam em nós e nos transformam. A Biblioterapia tem como objetivo “fazer companhia e aliviar sentimentos de solidão, levantar o ânimo […] combater a tristeza […], estimular a memória e a imaginação de quem ouve e fazê-lo viajar sem sair do lugar, conversar no seguimento da leitura e ajudar a passar o tempo.”

Quem ouve lê noutro formato. O ouvinte é simultaneamente leitor. A escuta amplia a descoberta de autores, palavras, textos e livros.

O Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta é simultaneamente um guia e um convite. Um guia, pois ajuda-nos a melhorar a técnica de ler em voz alta, através de muitas sugestões e propostas de exercícios, e orienta-nos na descoberta de novas rotas que nos conduzem aos benefícios da leitura em voz alta. Neste guia, somos conduzidos pela voz de alguns dos mais reconhecidos poetas, atores, mediadores de leitura, contadores de histórias e mestres da palavra dita.  Mas também com eles aprendemos a importância do escutar. E é um convite, pois desafia-nos a “entrar no jogo da leitura partilhada, enquanto percorre, em voo picado, uma breve história da literatura portuguesa”, a refletir sobre a importância de ler em voz alta e, finalmente, a escutar vozes magníficas e deslumbrantes palavras. Para sermos encantados pela(s) voz(es).

O Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta resulta de uma feliz parceria entre a Câmara Municipal da Sertã, organizadora da Maratona de Leitura, com a editora BOCA, em prol da leitura em voz alta e numa delicada e sentida homenagem à língua portuguesa.  Este magnífico livro faz-se acompanhar por um CD. Fica o convite para escutarem as belíssimas palavras de Alberto Pimenta, Ana Sofia Paiva, Andante (Cristina Paiva e Fernando Ladeira), António Poppe, Bru Junça, Cristina Taquelim, Elsa Serra, Fernando Assis Pacheco, Fernando Alves, Filipa Leal, Jorge Serafim, José Rui Martins, Luís Caetano, Luís Miguel Cintra, Maria do Céu Guerra, Mário Guerra, Miguel-Manso, Miguel Real, Raquel Lima, Rodolfo Castro, Sandra Barão Nobre e tantos outros. Obrigado a todos.

 

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