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PRÁTICAS
Projeto Metamorfoses: um desafio para aprender ciência, tecnologia e literatura
Metamorphosis project: a challenge to learn Science, Technology and Literature
João Dias e Adelina Machado

RESUMO

‘Metamorfoses’ é um projeto-piloto que tem o objetivo de proporcionar aos jovens do ensino secundário uma experiência educativa envolvendo a ciência e as humanidades de forma integrada. Os estudantes são desafiados a construir um protótipo biónico que seja utilizado por um dos protagonistas de um conto de ficção científica da sua autoria. O protagonista pode inclusivamente ser o próprio protótipo biónico.

Este projeto foi lançado em 2019 pela Ciência Viva através do ESERO Portugal, um programa educativo da Agência Espacial Europeia e da Ciência Viva, e pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL2027), em parceria com o Gabinete de Comunicação de Ciência da Fundação Champalimaud. ‘Metamorfoses’ é uma iniciativa inovadora no panorama educativo português, na medida em que associa ciência e tecnologia com leitura e escrita, promovendo a interdisciplinaridade e a literacia científica nas escolas.

O projeto estreou-se no ano letivo de 2019/2020 e 5 das 10 equipas finalistas, apesar das dificuldades impostas pela pandemia, conseguiram terminar os seus trabalhos, disponíveis na página oficial do PNL2027. A segunda edição do projeto, referente ao ano letivo 2020/2021 teve a participação inicial de 11 equipas. Os 8 projetos finalistas podem ser consultados igualmente na página oficial do PNL2027.

Neste artigo apresentaremos os pressupostos em que assenta o projeto e a forma como alunos e professores têm correspondido a este desafio, incluindo alguns depoimentos de participantes nas primeiras edições.

ABSTRACT

Metamorphoses is a pilot project created with the purpose to provide secondary students with an educational experience involving science and humanities in an integrated manner. Students are challenged to build a bionic prototype that has to be used by one of the protagonists of a science fiction story of their own. The main protagonist may even be the bionic prototype itself.

This project was launched in 2019 by Ciência Viva through ESERO Portugal, an educational program of the European Space Agency and Ciência Viva, and by the National Reading Plan 2017-2027 (PNL2027), in partnership with the Science Communication Office of the Champalimaud Foundation. Metamorphoses is an innovative initiative in the Portuguese educational landscape, in that it associates science and technology with reading and writing, promoting interdisciplinarity and scientific literacy in schools.

The project debuted in the 2019-20 school year and 5 of the 10 finalist teams, despite the difficulties imposed by the pandemic, managed to finish their work. Their bionic prototypes and science fiction tales are shown here, on the official page of PNL2027. The second edition of the project, referring to the 2020/2021 school year, had the initial participation of 11 teams. The 8 finalist projects can be found here, on the official page of PNL2027.

In this article we will present the assumptions on which this project is based on and how the students and teachers have responded to this challenge, including some testimonials from the participants in the first two editions.

PALAVRAS-CHAVE

metamorfoses, projeto escolar, literacia científica, literatura, ciência e tecnologia

KEYWORDS

metamorphoses, school project, scientific literacy, literature, science and technology

NOTA CURRICULAR DOS AUTORES

João Emanuel Guerreiro dos Santos Pinto Dias tem mestrado em Astronomia e Astrofísica, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Tem experiência profissional como investigador em Astrofísica Extragalática, tendo trabalhado no Observatório Astrofísico de Arcetri, em Itália, e realizado diversas observações de galáxias distantes no infravermelho no Observatório de La Silla, no Chile. Entre 2011 e 2017, trabalhou como planetarista e comunicador de Ciência no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. Realizou várias sessões interativas e dramatizadas neste museu, onde interpretou figuras famosas da Ciência. Trabalha na Ciência Viva desde outubro de 2017, tendo integrado a equipa do programa educativo ESERO Portugal, uma parceria da Agência Espacial Europeia com a Ciência Viva. Assumiu as funções de coordenador do ESERO Portugal em 2019. Além disso, também é ator, improvisador e professor de Teatro de Improviso na Escola de Atores da ACT, em Lisboa.

Maria Adelina da Silva Machado é ex-professora de Física. Licenciou-se em Ensino da Física pela Universidade de Lisboa em 1978. É também pós-graduada na área de Desenvolvimento e Educação, pela Universidade NOVA de Lisboa, e tem participado em vários cursos de verão para educadores na ESA e da NASA. Como professora, colaborou em projetos escolares com a Ciência Viva desde 1998. Foi Coordenadora Pedagógica do Centro Ciência Viva da Amadora de 2005 a 2010. Foi Diretora Executiva do Centro Ciência Viva de Sintra de 2011 a 2014. É atualmente Consultora de Educação para o Espaço na Ciência Viva e é também Coordenadora de Educação do ESERO Portugal. 

INTRODUÇÃO

O projeto ‘Metamorfoses’ nasceu da necessidade de lançar um desafio inovador aos estudantes portugueses, aliando a Ciência e a Tecnologia à Literatura de uma forma aliciante. A importância de criar uma iniciativa deste género foi identificada pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL2027), que desafiou a Ciência Viva a imaginar um projeto educativo com estas características. A conceção do projeto teve por base uma análise cuidada do panorama atual do sistema educativo português, das metodologias de ensino e das áreas curriculares das Humanidades e da Ciência e Tecnologia. Seguem-se umas breves linhas sobre os pressupostos de base na criação do projeto.

PRESSUPOSTOS

A. Sistema educativo português

Os cursos científico-humanísticos[1] constituem uma oferta educativa vocacionada para o prosseguimento de estudos de nível superior e estão divididos em: Ciências e Tecnologias; Ciências Socioeconómicas; Línguas e Humanidades; Artes Visuais. Cada um destes cursos encontra-se, por sua vez, dividido em duas partes: componente de formação geral, comum aos quatro cursos, que visa contribuir para a construção da identidade pessoal, social e cultural dos jovens; componente de formação específica, que visa proporcionar formação científica consistente no domínio do respetivo curso.

Apesar de os cursos de Ciências e Tecnologias e de Línguas e Humanidades terem um tronco comum, grande parte dos alunos não valorizam devidamente as disciplinas que não fazem parte da sua formação específica. O caso típico acontece com a disciplina de Matemática B nos cursos de Línguas e Humanidades, em que muitas vezes esta disciplina é desvalorizada em relação a outras, como, por exemplo, o Português. Já nos cursos de Ciências e Tecnologias, o Português e a Filosofia são consideradas disciplinas ‘menores’, embora sejam disciplinas fundamentais na construção do discurso e do pensamento.

Felizmente, a recente homologação do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (Despacho n.º 6478/2017) parece indicar que se está deliberadamente a trilhar um caminho que permite conferir ao ensino secundário uma identidade que poderá ser reconhecida socialmente como o fim da escolaridade formal, permitindo esbater as divisórias organizacionais e pedagógicas das vias que o constituem. O documento estabelece “um perfil que todos possam partilhar e que incentive e cultive a qualidade” (Martins, 2017, p. 1)[2], sendo uma referência essencial na operacionalização do novo projeto-piloto de Autonomia e Flexibilidade Curricular (Despacho n.º 5908/2017). A sua implementação foi iniciada no ano letivo de 2017/2018, e tem gerado grandes expectativas de alunos, professores e famílias.

B. Humanidades ou Ciência e Tecnologia?

Se refletirmos sobre o mundo atual e procurarmos soluções para os seus problemas, temos de mudar a nossa maneira de pensar e passar de um paradigma simples (mecânico, reducionista e linear) para um paradigma mais complexo (dinâmico, aberto e interdisciplinar).

A Ciência tem revelado múltiplos sucessos nas últimas décadas, especialmente nas áreas que têm um impacto económico mais imediato, o que é particularmente relevante na conjuntura recente de crises económicas e financeiras.

As Humanidades não passaram, no entanto, a ser menos importantes, trazendo-nos a perspetiva da história, da cultura, das artes e permitindo compreender melhor e agir sobre a sociedade em que vivemos.

C. Sobre a Educação

A Educação tem como um dos seus objetivos principais a contribuição para a construção da identidade pessoal, social e cultural dos jovens. As Humanidades são a base imprescindível para a sua formação integral, a par de uma preparação científica que contribua para um pensamento científico crítico.

Entre os teóricos que refletiram sobre este tema, destaca‐se Bertrand Russell (1872/1970), que desenvolveu uma conceção humanista da educação, segundo a qual esta envolve um conjunto complexo de capacidades, talentos e atitudes que, em conjunto, delineiam uma educação que tem aspetos intelectuais e morais. No seu volume Educação para um mundo difícil (1961)[3], Bertrand Russell chama-nos a atenção para o facto de um ensino exclusivamente científico ser incompleto, como se nos quisesse alertar para a necessidade de complementarmos o ensino das Ciências com o estímulo para a procura da sabedoria – “aquele conhecimento que, caso possa ser transmitido, pode apenas sê-lo através do lado cultural da educação”.

De facto, as combinações entre as metodologias de ensino de diferentes disciplinas permitem alargar o campo de investigação e a interligação entre as Humanidades e as Ciências. Esse alargamento verifica-se no caso das áreas das Humanidades Digitais (envolvendo as Ciências Sociais e Humanas, as Ciências de Computação e as Ciências da Informação e Documentação), as Ciências Cognitivas, as Neurociências e as Biotecnologias.

A ficção científica, por exemplo, pode ser trazida para o contexto mais alargado da educação para convidar a uma reflexão sobre a sociedade e possíveis futuros imagináveis, com as respetivas implicações sociais e éticas. Da mesma forma, a ficção científica pode ser abordada nas atividades educativas das Ciências com um sentido motivador, mas também como uma forma de convidar a uma reflexão sobre questões significativas acerca da sociedade e do seu futuro. Ainda a propósito do papel da ficção científica na educação científica, citamos John Brunner (1971)[4] quando afirma que “A ficção científica deve ser claramente entendida, não é ficção sobre a ciência. É sobre pessoas, como toda a ficção – embora, neste caso específico, [os protagonistas] possam muito bem não ser humanos –, que se beneficiam ou são afetadas pelo impacto da mudança tecnológica.” (Brunner, 1971, p. 389).

O NASCIMENTO DE ‘METAMORFOSES’

No início de 2019, a Ciência Viva e o PNL2027 criaram um projeto para promover a interdisciplinaridade entre as áreas das Humanidades e da Ciência e Tecnologia nas escolas. Foi criado um desafio, dirigido aos alunos e professores do ensino secundário, que consistiu na criação de um protótipo biónico que servisse de pretexto para a escrita de um conto de ficção científica. O protagonista da história seria o próprio membro biónico ou o ser que o utiliza. A ideia da substituição de parte do corpo de um ser vivo por um componente eletrónico pressupõe que este tenha sido sujeito a uma transformação, ou a uma mudança de forma. A combinação invulgar do Português e da Literatura com a Ciência e a Tecnologia, do ponto de vista curricular, implica também a adaptação a uma nova realidade. Foram estas razões que nos fizeram dar a este projeto o nome ‘Metamorfoses’.

Na Ciência Viva, o projeto foi integrado no plano de atividades do ESERO Portugal (ESERO PT), programa educativo que resulta de uma parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA). Este programa utiliza o Espaço como contexto inspirador para a aprendizagem das Ciências, das Tecnologias e da Matemática, para promover o interesse dos alunos nestas disciplinas e os incentivar a seguir carreiras científicas e de engenharia. No nosso país, o ESERO PT é um ponto de referência para os professores do ensino básico e secundário, ao facilitar a abordagem de temas do Espaço na sala de aula, através da disponibilização de recursos educativos, ações e cursos de formação.

O ESERO PT/Ciência Viva tornou-se, assim, no parceiro ideal do PNL2027 para assumir a organização conjunta do projeto ‘Metamorfoses’. O Gabinete de Comunicação de Ciência da Fundação Champalimaud foi posteriormente convidado a estabelecer uma parceria para a realização deste desafio. Os investigadores da Fundação assumiram o papel de consultores, formadores e júri relativamente à componente científico-tecnológica do projeto. Por sua vez, o PNL2027 ficou encarregue de divulgar, apoiar, formar e avaliar o trabalho das equipas participantes na sua componente humanística. Por fim, a divulgação e promoção do projeto pelas escolas, a interligação das áreas curriculares e toda a logística envolvida na organização do projeto ficaram a cargo do ESERO PT.

AS DUAS PRIMEIRAS EDIÇÕES

Em ambas as edições as equipas eram formadas por grupos de 4 a 6 alunos, cujo trabalho foi supervisionado por dois docentes, das áreas de Ciência e Tecnologia e de Humanidades. Os trabalhos dos projetos finalistas foram apresentados sob a forma de um vídeo e de um documento de texto com o conto final. Ambos foram avaliados por um júri constituído por elementos indicados pelo PNL2027, pelo Ciência Viva e pela Fundação Champalimaud (FC). Foram escolhidos 10 vencedores, de acordo com os seguintes critérios:

Execução técnica do objeto biónico (40%) – Funcionalidades e execução;

Valor literário do conto (40%) – Correta utilização da língua portuguesa e originalidade do texto;

Produto final (20%) – Harmonia e unidade do conjunto (objeto e texto).

As equipas foram incentivadas desde o início a procurarem parcerias com outras instituições em busca de patrocínios, consultoria científica ou apoio para a aquisição de materiais.

Edição-piloto em 2019/2020

A edição-piloto do projeto foi coordenada pelo ESERO PT, por intermédio da professora Adelina Machado, Coordenadora Educativa, e por Ana Alves, Assistente de Projetos; por Cristina Sarmento, responsável pelo projeto de leitura Ler + Ciência, do PNL2027; e por Catarina Ramos, Coordenadora da Assessoria de Comunicação Científica da Fundação Champalimaud (FC).

Foi criado um workshop para os professores, em regime presencial, com a duração de um dia. O workshop era de carácter obrigatório para os participantes no concurso, embora fosse aberto a todos os professores que se inscrevessem previamente. Incluiu uma formação científica e tecnológica, a cargo da FC, e um curso intensivo de Literatura de Ficção Científica, a cargo do PNL2027.

A primeira parte do workshop contou, assim, com a participação de vários investigadores e engenheiros da FC, que deram a oportunidade aos professores de alargarem os seus conhecimentos em várias áreas distintas, como as Neurociências e a Engenharia Computacional.

A segunda parte do workshop ficou a cargo do PNL, através da participação de Nuno Camarneiro (escritor e engenheiro físico), que dinamizou a atividade ‘Como se escreve um conto de ficção científica’.

Os projetos finais das equipas que participaram na edição-piloto do ‘Metamorfoses’ foram entregues à Ciência Viva, ao PNL e à FC para apreciação e avaliação.

Inscreveram-se 12 equipas, de entre quais foram selecionadas 10 finalistas. Entretanto, surgiu a pandemia de SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19. Os problemas provocados por esta situação e a difícil adaptação das escolas a esta nova realidade levou a que apenas cinco equipas conseguissem levar a cabo a sua missão. Os seus trabalhos finais encontram-se expostos na página do Ler+ Ciência, no portal do PNL2027.

Os jovens participantes deram largas à sua imaginação e criaram contos sobre olhos biónicos que ajudam invisuais a detetar incêndios ou superfícies quentes, dedos biónicos que permitem dar apoio a doentes, uma mão biónica supersónica que facilita o trabalho de uma mulher polícia, entre outros (V. Figura 1).

Figura 1: Alguns dos trabalhos desenvolvidos pelas equipas: Um implante subcutâneo, óculos biónicos, um dedo e uma mão biónicos e a dramatização de um dos contos.

Segunda edição em 2020/2021

Na segunda edição, concorreram 11 equipas. O workshop para os professores foi realizado através de uma plataforma online, dada a situação da pandemia que se vivia no nosso país nessa altura. Como é habitual, contou com uma componente científico-tecnológica, com a presença de vários neurocientistas, engenheiros e um biólogo marinho.

Desta vez, os professores foram convidados a fazer uma breve apresentação do trabalho das suas equipas e explicaram como os objetos biónicos seriam enquadrados nos respetivos contos de ficção científica. A equipa do PNL pronunciou-se sobre as narrativas propostas pelas equipas e os investigadores presentes deram-lhes feedback científico-tecnológico sobre o andamento da construção dos seus objetos biónicos.

A edição do ano letivo 2020-2021 terminou com a seleção de oito equipas. Dada a qualidade dos vários projetos, a organização decidiu que todas teriam igual destaque. Assim, todas as equipas foram convidadas a apresentar os seus trabalhos no Encontro de Ciência 2021, quer presencialmente, quer sob a forma de um vídeo.

Os trabalhos finais deste ano letivo estão disponíveis na página oficial do Ler+ Ciência, no portal do PNL2027, e na página do ESERO Portugal.

É de realçar o grande empenho, a criatividade e a originalidade das equipas participantes, demonstrados através dos trabalhos propostos, como, por exemplo: uma mão biónica que toca um piano cujas teclas são sensores construídos com material reciclável; um animal biónico com a missão de medir a poluição do ar no seu habitat; ou uma abelha biónica capaz de detetar as condições atmosféricas ideais para informar as suas companheiras da colmeia da melhor altura para recolherem o pólen.

CONCLUSÃO

Inquirimos vários professores e alunos que participaram neste projeto e recolhemos as suas respostas. Procurámos desta forma perceber como foram as suas experiências, em que medida o projeto ajudou os docentes a ensinar estas áreas curriculares e a motivar os alunos para procurarem saber mais sobre estes assuntos.

Até agora, no total, tivemos 23 equipas a participar no projeto, inclusive uma professora que participou nas duas edições. No entanto, há que realçar que houve vários professores a orientar mais do que uma equipa na edição-piloto, embora este projeto seja de difícil execução e, como tal, exija muitos dias de dedicação e envolva áreas disciplinares muito distintas. Além disso, a missão das equipas foi dificultada por ter decorrido num ano em que a pandemia impediu que os alunos se pudessem reunir presencialmente para trabalharem em equipa.

Voltámos a recolher muitos testemunhos positivos e até entusiastas por parte de professores e alunos. Alguns dos participantes na primeira edição aconselharam este projeto a outros colegas, que esperam inscrever-se em futuras edições.

Consideramos que o projeto alcançou uma população escolar muito abrangente, dado que recebemos participações de vários distritos diferentes do País, de Norte a Sul, incluindo o Interior e Ilhas.

A importância da multidisciplinaridade do 'Metamorfoses', que permite desenvolver novas competências científicas e literárias, foi destacada por um grande número de professores. Além de referirem que esta foi uma excelente forma de promoverem os conteúdos programáticos das disciplinas que lecionam, também o desenvolvimento das competências transversais e das relações de aluno-aluno, aluno-professor foram referidas como uma das mais-valias do projeto.

De um modo geral, todos os docentes se sentiram aliciados pelo desafio de construir um protótipo biónico, sobretudo por se tratar de um trabalho complexo, que exigiu a aquisição de novas bases técnicas, com as quais nunca antes tinham lidado.

Já os alunos destacaram a satisfação de terem aprendido a superar as dificuldades encontradas com a ajuda do trabalho de equipa, principalmente no que diz respeito à eletrónica e à exploração da programação do objeto biónico. Todos eles gostaram da experiência de aprender técnicas de escrita ficcionada e criativa e de descobrir que os conhecimentos adquiridos em disciplinas tão diferentes como o Português e a Física se podiam conjugar para proporcionar resultados tão interessantes e até divertidos.

No que diz respeito às dificuldades encontradas, quase todas as equipas referiram que o maior problema foi, de facto, lidar com as contingências impostas pelo contexto de pandemia em que vivemos, sobretudo na parte científica e tecnológica do projeto.

Destacamos o testemunho de uma professora de Educação Especial, que escreveu o seguinte: “[esta atividade] despertou em nós uma consciência acrescida de intervenção social uma vez que contactámos mais de perto com colegas ‘especiais’ que, pelas suas especificidades, nos levaram a refletir sobre a importância da compreensão e da aceitação dos outros.” Dada a especificidade dos seus alunos, foi inclusive dramatizado o conto de ficção por eles criado.

Entre as equipas que concorreram, alguns alunos referem que a sua participação no projeto tem potenciado a cooperação entre alunos e professores e entre a escola e outras instituições, além de lhes permitir descobrir alguns talentos escondidos.

Outro professor conta-nos que ele e os seus colegas “consideraram o projeto inédito e muito desafiante, ao convocar duas áreas do saber muito distintas” e reconhecem que esta experiência está a ser “enriquecedora em vários domínios, tais como a expressão escrita, a sensibilidade estética, o espírito crítico, o relacionamento interpessoal, a resolução de problemas, a procura de soluções tecnológicas, etc.”

A professora que participou nas duas edições do concurso considera que “temos de pensar um bocadinho mais além do ensino tradicional, pois é isso que será exigido aos nossos alunos no futuro.” Afirma que foi por essa razão que se interessou por este projeto. Refere-se a ‘Metamorfoses’ como “um projeto exigente, pelo facto de tirar os alunos do tradicional ensino livresco. Aqui não há um manual, temos de ir ultrapassando os obstáculos. Daí que seja também só por si um projeto desafiante, pois cada obstáculo conduz a um novo desafio.” Recorda ainda que os seus alunos nunca tinham trabalhado com sensores Arduíno, porque o Clube de Informática da sua escola estava ainda a dar os primeiros passos na altura. Foi graças à persistência e dedicação da equipa que os obstáculos foram todos superados. Acrescenta ainda: “Foi um trabalho gratificante como professora, pois também cresci ao dar mais um passo naquilo que acredito ser o futuro da escola. Por parte dos alunos, foi bastante interessante ver a motivação para ultrapassar cada etapa e a expectativa do produto final.”

Terminamos com mais uma partilha de uma professora: “Este foi, sem dúvida, um projeto gratificante, que nos permitiu alargar os nossos horizontes e adquirir novos conhecimentos para a vida.”

Estas razões levam o ESERO PT/Ciência Viva, o PNL2027 e a FC a considerar que o projeto, iniciado como um piloto, deve ter continuidade. Que venha a 3.ª edição do projeto ‘Metamorfoses’!

AGRADECIMENTOS

Os Autores querem agradecer aos professores e aos alunos que participaram no projeto ‘Metamorfoses’ e que aceitaram o nosso convite para nos dar o seu testemunho sobre a experiência que viveram:

Equipa Mónica, a Mão Supersónica (edição-piloto)
Escola: Escola Secundária Quinta das Palmeiras, Covilhã
Docentes: Albertina Leitão (Física), Alice Carrilho (Biologia), Sónia Pimparel (TIC) e Pedro Pimparel (Português)
Alunos (11.º e 12.º ano): Francisca Valezim, João Resende, José Mariano, Mariana Pinheiro, Mariana Morais, Mariana Pedro e Ricardo Justino 

Equipa VitaMoimenta (segunda edição)
Escola: Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira
Docentes: Ana Santos (Português), Paulo Sanches (Física), Eduardo Ribeiro (Área Tecnológica)
Alunos (12.º ano): André Santos, Bárbara Ribeiro, Filipe Tavares, Hugo Rodrigues, Maria Soares, Pedro Carvalho

Equipa Armilla BeiraX (segunda edição)
Escola: Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira
Docentes: Maria Loureiro (Português), Paulo Sanches (Física), Eduardo João Ribeiro (Área Tecnológica)
Alunos (12.º ano): Francisco Mesquita, João Matos, João Santos, Leandro Carvalho, Marta Domingues, Pedro Salgueiro, Pedro Mendes

Equipa X-Glasses (edição-piloto)
Escola: Escola Básica e Secundária da Povoação, S. Miguel, Açores
Docentes: Nídia Fidalgo (Física) e Graça Ferreira (Português)
Alunos (12.º ano): Beatriz Ferreira, Lucas Junípero, Éric Carreiro, Bruno Oliveira, Miguel Furtado

Equipa Hope (segunda edição)
Escola: Escola Básica e Secundária da Povoação, S. Miguel, Açores
Docentes: Nídia Fidalgo (Física) e Graça Ferreira (Português)
Alunos (12.º ano): Raquel Resende, Sara Barbosa, Matilde Leite e Sabrina Furtado

REFERÊNCIAS

[1] Decreto-Lei n.º 139/2012, de 6 de julho. Diário da República, 1.ª série – N.º 129, artigo 38.º. Disponível em: http://www.dge.mec.pt/cursos-cientifico-humanisticos 

[2] Martins, G. et al. (2016). Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação (DGE). Homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, de 21 de julho. Disponível em: http://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/22377/1/perfil_dos_alunos.pdf

[3] Russel, B. (1961). Education for a Difficult Worl. In Fact and Fiction. George Allen & Unwin Ltd. Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/cadernos/futuro/educ%20%20mundo%20dificil.pdf

[4] Brunner, J. (1971). The educational relevance of science fiction. Physics Education, 6(6), pp 389-391. Nota: A citação em questão é referenciada em português no artigo: Piassi, L. (2015). A ficção científica como elemento de problematização na educação em ciências. Ciência & Educação. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/282468291_A_ficcao_cientifica_como_elemento_de_problematizacao_na_educacao_em_ciencias

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