ISBN: 978-989-644-486-0
Data de edição: Outubro de 2018
Editor: Temas e Debates
N.º de páginas: 448
O Mundo da Escrita, de Martin Puchner, professor de Literatura Inglesa e Comparada na Universidade de Harvard e autor várias vezes galardoado, é um livro de carácter quase enciclopédico, repleto de ilustrações, que fala essencialmente de histórias. As histórias fundadoras do mundo, dos povos e das civilizações.
Martin Puchner inicia esta magnífica obra com um desafio que se coloca a si próprio – tentar imaginar o mundo sem literatura. Que desafio! E o leitor é convidado, subtilmente, a iniciar a leitura com a perspetiva do globo terrestre visto da Lua. Em 1968, os três tripulantes da nave espacial Apollo 8, na primeira órbita à volta da Lua, leram para quem os acompanhava a partir da Terra uma passagem da Bíblia (Génesis) adequada ao que estavam a ver: “Ver a Terra a nascer lá ao longe era a posição perfeita para ler o mais influente mito da Criação concebido pelo homem.”
E daqui o autor parte para uma viagem pelo tempo e pelo globo terrestre, através de uma linha temporal e de um mapa do mundo escrito, passando por textos fundamentais da história da civilização, selecionados de entre os mais de 4000 anos de literatura mundial: O Épico de Gilgameš, a Ilíada de Homero, as Escrituras Sagradas, o Romance do Genji de Murasaki Shikibu, As Mil e uma Noites de Sherazade, o D. Quixote de la Mancha de Cervantes, o Manifesto Comunista de Marx e Engels, a Epopeia de Sunjata, bem como o Harry Potter de J.K. Rowling, contam-se entre esses textos.
Martin Puchner demonstra-nos, neste livro, o poder que detém a escrita, ou seja, a sua função na construção e na queda de nações e de impérios, na criação de ideias filosóficas e políticas e na fundação e manutenção das religiões. Mas a história da escrita é também a história das invenções e da tecnologia que lhe servem de instrumento e de suporte. Por isso, quem tem particular interesse na evolução da escrita desse ponto de vista também encontrará nesta obra detalhada informação sobre o(s) alfabeto(s), o pergaminho, as tabuinhas de argila, o papel, o rolo, o códice, o estilete e a imprensa, entre outros.
Mas o autor não se deixa ficar “sentado à secretária. Precisava de ir aos sítios onde os grandes textos e invenções tinham nascido.” Na sua busca, Martin Puchner viaja de Beirute a Pequim e de Jaipur ao Ártico. Vai às Caraíbas e a Istambul, para falar com dois Prémios Nobel da Literatura (Derek Walcott e Orham Pamuk, respetivamente). Procura ruínas literárias em Troia e em Chiapas e fala com arqueólogos, tradutores, escritores... Apresenta-nos os artífices da Epopeia de Sunjata, na África Ocidental, e leva-nos com ele a assistir à sua versão favorita, dita por um contador de histórias numa aldeia da Guiné-Conacri. Afinal, “[n]ão é assim um trabalho tão terrível ser-se escritor.”
E nós, leitores do século XXI, “fazemos de novo rolar os textos” nos nossos telemóveis “e sentamo-nos curvados sobre tablets”, herdeiros dessa história da escrita com a qual dialogamos continuamente. É evidente que, para esse diálogo, O Mundo da Escrita é uma obra de leitura obrigatória.