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Escrever: Memórias de um Ofício
Escrever: Memórias de um Ofício
Stephen King

ISBN: 972-759-459-X
Data de edição: julho de 2020
Editor: Bertrand Editora
N.º de páginas: 288

Stephen King, o Mestre do Terror, como muitos lhe chamam, decidiu em 1997 escrever sobre o ofício da escrita. Em 1999 foi vítima de um acidente grave e, nos longos meses de recuperação, foi à escrita que recorreu para lidar com a dor física e regressar à vida. Escrever foi editado pela primeira vez nos E.U.A. em 2000 e a tradução portuguesa está disponível desde julho de 2020.

Neste livro do prolífico autor de bestsellers como Carrie, The Shinning e Misery (só para citar alguns), mostra-se a vida do homem que escreve, os 'cordelinhos' que movem as personagens, os bastidores, por vezes, não muito nobres, da criação das intrigas, as suas relações com outros autores, com os editores, com a crítica… E a cumplicidade com a sua primeira leitora, a mulher, Tabitha.

Num registo informal e com um humor por vezes cáustico, King conta-se como uma história dos seus romances, desde a infância difícil e os primeiros escritos até à fase de escritor internacionalmente aclamado. E, nas memórias do ofício, há lugar para o professor que aconselha, avisa, orienta, ensina caminhos, mostra estratégias.

O “Grande Mandamento” para quem se quer dedicar ao ofício de escritor, o conselho que se sobrepõe a todos os outros, é: “ler muito e escrever muito”. Sim, ler muito, porque a leitura “é o centro criativo da vida de um escritor”. Deve-se aprender a ler de várias maneiras, para aproveitar todas as oportunidades: por exemplo, em salas de espera, em filas de supermercado, na casa de banho, às refeições ou enquanto se conduz (ouvindo um audiolivro). São muitas, pois, em Escrever, as referências a obras literárias e a escritores, sobretudo aos 'bons' (no final, o autor inclui mesmo uma lista de livros que leu e que, segundo ele, influenciaram a sua obra), embora King também refira alguns 'maus', já que obviamente também os há.

E “escrever muito”, o que significa? O autor dá exemplos que apontam para uma grande variedade de casos, desde escritores que escrevem pouco e irregularmente até outros que escrevem diariamente e muito, como ele próprio. Neste domínio, dá conselhos sobre as condições em que se escreve, relevantes para a qualidade e a quantidade da escrita, segundo ele.

Para praticar o ofício de escrever, King dá avisos sobre, por exemplo, o uso de advérbios em -mente e da forma passiva, a evitar a todo o custo.  Abundam, neste livro, excertos da sua obra para exemplificar conceitos como narração e descrição, processos de construção de personagens, seleção de vocabulário,… As várias versões de um texto são igualmente exibidas com vista à explicitação dos processos de escrita, reescrita e revisão textual. E as fases da edição de um texto de ficção são descritas como, em primeiro lugar, o que se escreve “com a porta fechada”: “a história nua, só de cuecas e meias”; depois, a versão revista do texto: “a história com a roupa, o cabelo penteado, talvez até com um pouco de água-de-colónia” – e, a partir desta versão, pode-se “abrir a porta”, ou seja, dar a ler a história a alguém, para depois cortar, eliminar, acrescentar, alterar palavras, etc., a partir desses contributos de bons leitores, se for o caso.

Na fase de recuperação do acidente que quase o matou e que ele conta como se fosse uma das suas ficções, King descreve a “alegre agitação” que é escrever: “É como descolar num avião: está no chão, no chão, no chão… e, de repente, está a subir, a andar num tapete mágico de ar, senhor de tudo o que vê.” Este livro pretende ajudar quem quer ser escritor a chegar a essa “alegre agitação”. Ou, pelo menos, a refletir sobre aquilo que faz com que quem escreve se torne um escritor.

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