ISBN:978-989-665-975-2
Data de edição: maio de 2020
Editor: Companhia das Letras
N.º de páginas: 224
O que é um escritor? Porque é que escreve? Como vive?
João Tordo, escritor português nascido em 1975, com romances editados em vários países, vencedor do Prémio José Saramago em 2009, publicou recentemente Manual de sobrevivência de um escritor, um livro de não-ficção sobre o seu ofício - escrever.
O autor dirige-se neste livro a todos aqueles que se interessam pelo mundo da escrita, sejam eles escritores a dar os primeiros passos, sejam apenas leitores curiosos. Com algum humor e pragmatismo, partilha vivências e memórias e dá conselhos a quem quer escrever.
Este livro é, como diz João Tordo no prefácio, “a consequência de milhares de horas passadas sentado a uma secretária, a tentar – palavra após palavra, uma página de cada vez – escrever um livro.” O trabalho minucioso, quase de ourives, de quem trabalha com as palavras, o autor conhece-o desde a juventude. O apelo da escrita, nessa época, ter-se-á manifestado “sob a forma de uma patologia. Não é normal um miúdo de sete ou oito anos passar mais tempo debruçado sobre livros e papéis do que a jogar à bola com os amigos.” Disfunção, patologia, sofrimento são termos usados pelo autor para referir a motivação para o ato da escrita, que considera “uma forma bastante eficaz de combater a loucura, o caos e a dispersão”.
Depois de fazer considerações sobre conceitos como escritor, ficção e escrita – a transformação da vida em beleza, diz –, João Tordo debate, no capítulo “Um Modo de Usar”, questões como o enredo, os temas, o título, a técnica e a edição, exemplifica com autores e obras portuguesas e estrangeiras, e dá conselhos baseados na sua experiência. Sendo a boa escrita “a consequência de ler muito, de ter lido muito e de ler sempre muito”, é natural que, numa fase inicial, se imitem bons autores, se escreva sob a influência de outros. Encontra-se uma voz própria depois de se ter escrito com vozes alheias. É nesse momento que verdadeiramente se começa a escrever.
Os capítulos “Efeitos Secundários” e “Possíveis Interações”, reforçando a metáfora da escrita se não como terapia, pelo menos como meio de profilaxia, abordam temas como a ansiedade, o fracasso, o sucesso, as traduções, o dinheiro, o tédio, o álcool e as drogas, entre outros.
O autor vai pontuando o livro com a frase “Portanto, tu queres ser escritor”. Relembra, assim, a razão por que está a escrever, por que o leitor está a ler. Apesar de afirmar que não escreve o livro só para quem deseja ser escritor, mas também para quem gosta de ler, o autor está a escrever um manual sobre um ofício, que fornece ferramentas de sobrevivência a quem quer fazer vida da escrita. Simultaneamente, sempre que repete essa frase, ao longo do livro, parece querer assegurar-se de que, depois de saber o que ele vai revelando, o seu leitor ainda não desistiu de ser escritor. É que muitas são as dificuldades. E a maior preocupação é mesmo a sobrevivência.
Mas a solidão e o isolamento que parecem ser consequência da opção de viver da escrita não podem impedir o escritor de viver, ler e escrever o mundo.
Fica o alerta. Os livros não são sobre nada. Os livros são sobre ti. Tudo o que acontece acontece-te. Prepara-te!