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Título: Escrito na parede Autor: Ana Saldanha Ilustrador:
Editor: Caminho
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Quem lê o quê?
A escrita de Ana Saldanha é difícil para muitos leitores. Apesar dos temas de cariz social sempre focados em personagens juvenis, a estrutura das suas narrativas tornam-se quase impenetráveis para quem não domina a leitura literária.
Esta novela será provavelmente um dos exemplos mais claros. A acção principal acompanha Daniel na sua busca desesperada pela mãe desaparecida. No seu périplo de dias o jovem protagonista cruza-se com ex-amigos da mãe, o seu amante, a artista em casa de quem fazia limpezas, professores e colegas na escola, um amigo do bairro social onde vive. Cada lugar e cada situação servem de pretexto para trazer à história acontecimentos passados através dos quais acedemos aos maus tratos de que Daniel é vítima, à miséria, aos negócios escuros e a muitas hipóteses mais.
Os diálogos não cedem a eufemismos e as descrições tão pouco. À medida que a acção progride ganha forma uma suspeita que dá nova emoção ao final. Todavia, muito ao jeito de Ana Saldanha, o desenlace é aberto deixando muitas perguntas sem resposta, a principal das quais o que aconteceu de facto com a mãe. Este revela-se por isso eventualmente frustrante mas não é o principal entrave à leitura. A ausência de referências acerca das margens sociais numa cidade como o Porto, o vocabulário reduzido e a incapacidade de reconhecer as analepses que surgem sem aviso prévio condicionam fortemente a compreensão do livro.
Porém, a mediação pode neste caso ser de grande utilidade já que a descodificação dos vários momentos poderá levar os leitores adolescentes a estabelecer laços com o protagonista. É uma opção muito válida para a leitura colectiva e para o diálogo entre pares.
Palavras-chave
Família, violência, insucesso escolar, desigualdade social, abandono
Outras leituras
Dentro de mim, Ana Saldanha, Caminho
O ódio que semeias, Angie Thomas, Presença
Meia hora para mudar a minha vida, Alice Vieira, Caminho