Ilustração de Madalena Matoso in O livro da Tila, Caminho (2010)
“Ensinou-me [o meu trabalho] a entendê-las, a saber gostar delas, porque a criança é um ser muito importante a criança tem voz, e ouvir essa voz, muitas vezes até sem palavras, é muito importante. Hoje estou com as crianças e [elas] são um livro imenso, que não acaba. Depois penso: «Quanto, mas quanto, nós ainda devemos à criança…» Apesar de ser o século da criança, de haver outro entendimento pela criança, ainda falta muita humanidade, muito amor, muito respeito pelos seus direitos”. Matilde Rosa Araújo em entrevista de Mariana Sim-Sim e Joana Caldeira, Casa da Leitura.
O primeiro título de literatura para crianças publicado por Matilde Rosa Araújo, O Livro da Tila (1957) foi escrito nas viagens de comboio entre Lisboa e Portalegre, onde lecionava.
Este delicioso livro inspirou Fernando Lopes-Graça a compor canções infantis para cada um dos poemas que se encontram publicadas no livro As Cançõezinhas da Tila, editado pela Civilização. O livro tem as cópias das partituras originais manuscritas, belíssimas ilustrações de Maria Keil e um CD das canções cantadas pela Banda Os Gambozinos.
“Não frequentei nenhuma escola. Quantas vezes subi para o telhado de casas onde vivia, para olhar os meninos que iam para a escola? Talvez, por isso, a infância encontrou-me quando comecei a ensinar. Encontrou-me e continuou comigo no deslumbrado acontecer das aulas, deslumbrado e receoso de não saber comunicar. E fui aprendendo, tentando aprender o segredo da infância, da juventude, descoberta viva todos os dias. O curso de Letras encaminhara-me para esta profissão. Tive sorte”.
In Pelo Sonho é que Vamos, Jornal das Letras.
Ilustração de Maria Keil, in As cançõezinhas da Tila, Civilização Ed. (1998)
Leia o artigo A escrita encantatória de Matilde Rosa Araújo, sobre a reedição, pela Livros Horizonte, da coletânea O Sol e o menino dos pés frios, publicada pela 1.ª vez em 1972.
Matilde Rosa Araújo: era uma vez escrever para crianças - RTP Ensina.
[Vou às escolas] “porque me chamam e eu gosto muito. Vou assim pelas minhas pernas, pouco hábeis ou úteis, mas ajudam ainda, e lá vou. Gosto muito, muito, muito. É como se abrisse portas de um mundo que não é meu, mas também é meu, e faz-me pensar que estou com a criança de uma forma de certo modo útil: recebo amor e dou amor”. Matilde Rosa Araújo em entrevista de Mariana Sim-Sim e Joana Caldeira, Casa da Leitura.
Matilde Rosa Araújo recebeu vários prémios de relevo no domínio da literatura para a infância:
1980 - Grande Prémio de Literatura para a Infância da Fundação Calouste Gulbenkian.
1991 - Melhor livro estrangeiro, atribuído a O Palhaço Verde pela Associação Paulista de Críticos de Arte, Brasil.
1996 - Distinção da Fundação Calouste Gulbenkian para o melhor livro para a infância publicado no biénio 1994-1995, As Fadas Verdes.
“Descobri (…) que falar com Matilde significava ter a oportunidade de rememorar figuras relevantes da nossa vida cultural das seis últimas décadas. Pelas suas palavras comovidas perpassavam, constantemente, vultos que nos habituámos a venerar, gente que fez parte do círculo afectivo desta Senhora que sabia, como poucos, cultivar aquele princípio, que era apanágio da arte e da vida de Antoine de Saint-Exupéry: «Só há um luxo verdadeiro: o das relações humanas». Irene Lisboa, Lopes Graça, Sebastião da Gama, Jacinto do Prado Coelho, Torga, Maria Keil eram apenas alguns dos nomes que afluíam, com frequência, à memória de Matilde, que parecia ter nascido para dar graças por existir e por ter encontrado um mundo povoado de Amigos.” José António Gomes in A inocência recompensada.
Para Valter Hugo Mãe, “A Matilde Rosa Araújo inventou, sozinha, metade das coisas sensíveis do mundo”. Leia aqui.
Retrato de uma senhora por Carla Maia de Almeida. Leia o artigo na íntegra.
Vitorino - Balada das vinte meninas
Balada das vinte meninas friorentas
Vinte meninas, não mais
Eu via ali no beiral
Tinham cabecinha preta
E branquinho o avental.
Vinte meninas, não mais
Eu via naquele muro
Tinham cabecinha preta
Vestidinho de veludo.
Vinte meninas, não mais
No alto da ramaria
Tinham cabecinha preta
Peúga de fantasia.
Vinte meninas, não mais
Na torre acima de tudo
Tinham cabecinha preta
E capinha de veludo.
As minhas vinte meninas
Para o almoço e o jantar
Tinham coisas pequeninas
Que apanhavam pelo ar.
Vinte meninas, não mais
Eu via ali no beiral
Tinham cabecinha preta
E branquinho o avental.
Homenagem a Matilde Rosa Araújo, Município de Cascais
Outros livros de Matilde Rosa Araújo: