RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de duas pesquisas (Rosário, 2006, 2019) no campo das práticas leitoras de populações estudantis do Ensino Secundário, neste caso em concreto num distrito do interior do território português (Portalegre). São analisados dados sobre os hábitos de leitura de jovens dos 14 aos 21 anos, nas datas de 2004 e 2013. Estes dados, nas tendências evolutivas que desenham, são discutidos como exemplos reveladores de risco leitor. É debatida, finalmente, a necessidade de investigação e de ações de promoção da leitura junto destes grupos de idade em territórios com práticas leitoras deste nível. A Associação Andante (Prémio Ler+ 2019 do Plano Nacional de Leitura), que o autor do artigo integra, desenvolve projetos que – tirando partido dos conhecimentos da investigação e associando-os à intervenção no terreno – tentam ajudar a resolver o problema.
ABSTRACT
This article presents the results of two studies (Rosario, 2006, 2019) in the research field of reading practices of secondary school student populations, in this particular case in a district in the interior of the Portuguese territory (Portalegre). It analyses collected data on reading habits of young people (aged 14 to 21 years) in 2004 and 2013. These data and their evolution are discussed as an example revealing the phenomenon of reading at risk. Finally we discuss the need for research and actions in order to promote reading habits among age groups in territories that show a readership with these levels. Andante Association (National Reading Plan Ler+ 2019 Award), which the author of the article integrates, carries out projects that – using research data and associating them with intervention – try to help to solve the problem.
PALAVRAS-CHAVE
práticas juvenis de leitura, práticas culturais, risco leitor
NOTA CURRICULAR DOS AUTORES
Carlos do Rosário é simultaneamente investigador na área das práticas de leitura juvenis e diretor artístico da Associação Andante. Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1988), Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) (2006), Doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Évora (2019), é Professor Adjunto no Departamento de Ciências Sociais, Território e Desenvolvimento da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre (Portugal).
1. Duas pesquisas de terreno sobre práticas adolescentes de leitura: coordenadas dos estudos
As duas investigações que aqui tomamos como referência realizaram-se na totalidade (sete) dos estabelecimentos públicos do Ensino Secundário no distrito de Portalegre, em 2004 e 2013, com recurso a inquéritos por questionário aplicados a amostras estratificadas (Ferguson & Takane, 1989) a partir das variáveis sexo, ano escolar, curso/tipo de curso frequentado e escola de matrícula. No ano de 2004, num universo composto por 2409 alunos, foram inquiridos 591 indivíduos (24,5% da população matriculada no nível Secundário); por sua vez, em 2013, o universo de estudantes para o mesmo nível de ensino perfazia 2523, dos quais foram interrogados 509 (20,2%). Como atrás foi assinalado, a amostragem manteve as proporcionalidades observadas no universo, para cada escola, para cada ano escolar de matrícula, para cada grupo de sexo e para cada curso/tipo de curso, na procura da máxima representatividade possível das diversas condições de base. Os respondentes concretos foram selecionados por um procedimento de tiragem aleatória dentro dos estratos de antemão estabelecidos.
Os dois momentos de pesquisa procuraram, entre outras dimensões:
O conjunto investigativo teve por base as perspetivas e a metodologia (de cariz extensivo) de outras abordagens nacionais e internacionais ancoradas nos terrenos da Sociologia da Leitura e das Práticas Culturais. Nessa linha, e no plano internacional, destacamos os trabalhos britânicos do National Literacy Trust[2] – evidenciados, a título exemplar, nos relatórios de Clark (2014) e de Clark & Teravainen-Goff (2017, 2019); os da tradição francesa, com Hersent (2003), Donnat (2009, 2011a, 2011b)[3], Monade e Gérard (2016) ou Octobre (2018); as pesquisas americanas de Rideout, Foehr & Roberts (2010); ou ainda as holandesas de Wennekers, Huysmans, & Haan (2018). No contexto português, encontramos uma filiação a trabalho empírico desta natureza em Freitas, Casanova e Alves (1997) e, já sob a égide do Plano Nacional de Leitura, em Santos, Neves, Lima e Carvalho (2007) e Lages, Liz, António e Correia (2007)[4].
Ressalte-se que, uma vez que a investigação se cingiu apenas a um distrito, não podemos generalizar os seus resultados ao território nacional, sendo aqui discutidas precisamente as particularidades da região, cujos dados a colocam justamente, e a nosso ver, numa situação de práticas de leitura lúdica em risco no que concerne às populações juvenis em apreço. Vejamos por agora as informações obtidas, para as discutirmos posteriormente.
2. A evolução dos padrões leitores entre 2004 e 2013 num distrito do interior português
Um primeiro nível de abordagem aos comportamentos leitores das amostras selecionadas tentou situá-los nos seus quotidianos juvenis, procurando nestes o lugar da leitura sem fins escolares, o da leitura lúdica ou livre, no sentido que lhe atribuem Mauger e Poliak (1998), Chartier (2004), Donnat (2004) ou Neves (2011).
Mobilizamos, nessa matéria, alguns dentre os muitos indicadores trabalhados: a leitura de um livro (impresso) não escolar à data de resposta ao questionário (leitura atual); o número de livros (impressos) não escolares lidos na íntegra ao longo do ano anterior a essa mesma data (dando origem a uma tipologia de leitores de livros); o tempo semanal dedicado à leitura lúdica de livros (impressos); o lugar ocupado por esta no conjunto das práticas culturais ou de lazer; e o seu mesmo lugar num eventual ranking de lazeres declarados como preferidos.
Primeiro indicador (leitura atual): eram já menos em 2013 os que à data da recolha de dados declaravam estar a ler um livro impresso para fins de lazer (43,6%) do que os seus homólogos em 2004 (48,4%).
O segundo indicador, seguindo, com adaptações, a proposta de Ariño (2010), consagrava as seguintes categorias, sempre com base na declaração retrospetiva de livros lidos na íntegra no espaço de um ano:
Não leitores: nenhum livro lido;
Leitores em Processo: leitura ainda não terminada de um livro à data da recolha;
Pequenos leitores: um a cinco livros lidos;
Médios Leitores: seis a doze livros lidos;
Grandes leitores: mais de doze livros lidos.
Os resultados interpelam-nos. Em 2004 tínhamos no Alto Alentejo 9,5% de não leitores adolescentes; esse número subiu em 2013 para 21,8%. Se a subida dos leitores em processo (de 1,5 para 4,5%) e a estabilidade dos pequenos leitores (situada em ambas as datas nos 67%) nos dão uma medida, também para este território, dessa generalização de uma leitura de baixa intensidade no quotidiano das sociedades ocidentais (Griswold, 2000, 2001, 2007; Griswold, McDonnell e Wright, 2005; Lyons, 2001; Poulain, 2004), já os níveis do médio e do grande leitorado deixam muito a desejar: 19,3% de médios leitores em 2004, apenas 6,3 em 2013; redução do já baixo grande leitorado na primeira data (2,4%) para irrisórios 0,4% na segunda.
Esta baixa filiação ao universo do livro vê-se reforçada por quebras nos tempos semanais dedicados à leitura em contexto de lazer, reveladas por subidas nos períodos de curto investimento e descidas nos que testemunham um interesse leitor mais efetivo; dados corroborados pelo lugar muitíssimo modesto que esta leitura lúdica ocupa em cada uma das datas estudadas e que se vê ainda mais reduzido na segunda: entre os estudantes de 2004, a leitura diária de livros para fins de lazer era praticada por 13,7% dos estudantes, descendo ainda mais (para o valor de 10,6%) em 2013 – quadro erosivo que coloca esta prática cultural muito abaixo de outras como o acesso ao digital, a audição musical e o visionamento de televisão. Na procura do estabelecimento de um ranking de práticas de tempos livres favoritas, a mesma leitura de livros impressos é relegada também, em ambas as datas, para os lugares da cauda do pelotão: a verdade é que, escolhida, em 2004, como atividade preferida somente por 2,4% dos jovens, o seu lugar decaiu ainda mais em 2013 (reunindo então já apenas 1,4% de adeptos). Acresce a isso o fenómeno de um quase alheamento pela imprensa tradicional em papel que não se via (sobretudo na data mais recente), compensado por uma transferência para a imprensa digital, o mesmo acontecendo com a leitura integral de livros em formato digital (que, em 2013, se revelava perfeitamente marginal, quase prática desconhecida para a maioria dos respondentes). Dos objetos lidos à data da aplicação dos questionários, ou no espaço de um ano considerado na tipologia atrás referida, ressaltam sobretudo dois fenómenos: numa primeira instância, a quase ausência (ou a presença muito residual) de leituras de maior qualidade e extensão (à parte aquelas que os clássicos estudados na escola propunham e que estarão, pois, mais do lado académico e não do de uma leitura necessariamente por prazer); num segundo plano, uma ligação muito evidente entre leituras e audiovisual (os livros associados a séries juvenis e a fenómenos televisivos de massas), fenómeno que, sem que o devamos menorizar, pois constitui ainda assim um indicador de pulsão leitora, não implica necessariamente transferências para objetos leitores de outra índole (Colomer, 2009).
Uma segunda plataforma de análise que aqui convocamos é a da evolução da relação destas populações com as duas redes de leitura pública. Os dados recolhidos permitem claramente afirmar que ela sofreu tendências opostas quando comparada a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) com a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). Observemos essas tendências contrastantes, caso a caso.
As bibliotecas municipais, frequentadas por cerca de 51,6% dos estudantes em 2004, já só o eram por 27,9% em 2013 (numa diminuição bastante significativa de 23,7 pontos percentuais); na verdade, o que os dados espelham é que, entre os alunos do Secundário, na segunda data de recolha, apenas cerca de 28% tinha por hábito visitar bibliotecas municipais, o que, convenhamos, é um dado preocupante. Como explicar essa diminuição do interesse juvenil por equipamentos que foram alvo de tão forte investimento (pecuniário e simbólico) por parte do Estado e que constituíram um ex-líbris das políticas públicas para a leitura a partir da democratização do país? Em 2004 assistíamos em Portugal a uma expansão clara da RNBP; o seu processo de edificação e renovação nessa data era um facto incontornável e as bibliotecas municipais transformavam, de algum modo, o espaço das cidades e vilas; ofereciam serviços gratuitos, inovadores e apelativos (acesso a computadores, ligação à internet, requisição de suportes musicais e videográficos) e formas de usufruto a que nem todos os jovens, ainda, acederiam nos seus lares. Podemos conceber que uma interseção desses fatores (a novidade, o impacto territorial, a procura da ligação online, o acesso a conteúdos visuais, a própria visibilidade pública do programa) explicaria que, entre os inquiridos de 2004, a frequência das bibliotecas municipais se revelasse uma atividade atrativa, cobrindo a ocupação quer na dimensão dos lazeres, quer naquela relacionada com fins escolares. O que pode, em 2013, ter transformado esse panorama, revelado por uma quebra tão nítida de visitas – reforçada, ainda, pelo facto de os 142 alunos que ainda assim afirmavam visitar as bibliotecas municipais, na última data analisada, o fazerem em regime de baixa assiduidade (apenas 2,8% ali iam todos os dias; 28,9% declaravam um padrão de visita semanal; e avultavam as categorias de visita mensal ou muito esporádica – 68,3%)? O que pode explicar que a atração de alunos do Ensino Secundário para estas casas do livro tenha decrescido desta forma? Relembre-se que todas as opções em relação à leitura pública em Portugal (Neves & Lima, 2009) seguiram objetivos de articulação entre os setores cultural e educativo, transformaram a biblioteca municipal num centro estratégico na promoção da leitura particularmente dirigido aos mais jovens; e que se procurou no programa uma marca informal de modernidade[5] (Bertrand, Burgos, Poissenot & Privat, 2001; Burgos et al., 2003) capaz de captar todos aqueles que evidenciassem fraca filiação leitora. Vários fatores poderão ser mobilizados para interpretar o declínio na atratividade das bibliotecas municipais: no campo dos públicos-alvo juvenis, a generalização do computador pessoal no parque tecnológico doméstico (Donnat, 2009; Fleury, 2011) e a dos dispositivos móveis de acesso e armazenamento de conteúdos digitais terão de ser tidas em conta; depois, uma desaceleração do investimento autárquico, aliás assinalada por Oleiro e Heitor (2010) e por sucessivos relatórios da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB, 2013, 2016), também não pode ser ignorada; um terceiro vetor explicativo passará ainda por uma hegemonia da cultura dos ecrãs (Cardoso, 2014) e pela retração dos lazeres e das sociabilidades juvenis para o espaço doméstico, na culture de la chambre de que fala Glevarec (2010).
As tipologias de utilização das bibliotecas municipais sofreram também, de um ponto a outro, transformações a que é preciso estarmos atentos. Em 2004, para aqueles que afirmavam frequentá-las, a pesquisa para trabalhos escolares (quer a partir de livros impressos, quer a partir do ambiente digital) reunia 49,2% de escolhas, valor em queda vertiginosa em 2013 (9,9%), que pode ser interpretado como resultado quer da referida generalização do computador noutros espaços públicos e privados, quer de um recurso menos efetivo a materiais impressos (no fundo, a prática hoje muito generalizada, e tão deplorada pelos docentes, da pesquisa Google que resolve rapidamente aquilo de que o adolescente precisa para entregar um trabalho). Se, globalmente, os padrões não escolarizados se incrementaram (eram em 2013 percentualmente mais significativos do que os usos associados à escola – subidas ligeiras na audição de música, no visionamento de filmes, na leitura de jornais e revistas – mas não a ponto de permitir advogar um triunfo da biblioteca do concelho como espaço de eleição adolescente), a relação com o livro no seu formato tradicional não ganhou tanto como desejaríamos: paradoxalmente, a procura de livros por interesse pessoal até terá subido da primeira data (14,1%) para a segunda (19%), mas é preciso notar, reportando-nos a esta última: que, entre os 509 jovens inquiridos, apenas 5,3% (27 em termos absolutos) afirmavam fazê-lo; que apenas 3,1% afirmavam ter o hábito de, na biblioteca municipal, requisitar livros para leitura doméstica; que apenas 0,3% declaravam a rotina da leitura de livros na própria biblioteca; que um único jovem, um único, se dava ao prazer de flanar por entre as estantes da biblioteca para ver e descobrir novos livros.
Que concluir deste conjunto informativo? Regozijarmo-nos com o facto de a biblioteca municipal se ir conseguindo furtar a representações demasiado académicas e a usos excessivamente escolarizados? Claro. Mas não escamotear também, e a contracorrente desse aplauso, o reverso da medalha, que nos indicia uma desvalorização deste equipamento concelhio enquanto recurso escolar que deve ser acarinhado e estimulado, quer pelos agentes educativos, quer pelos públicos-alvo do sistema de ensino. Depois, não passar ao lado do facto de, neste conjunto territorial (pelos seus fracos públicos adolescentes e pelas tipologias do seu uso por parte destes), a biblioteca municipal não estar a atingir as grandes esperanças que nela foram colocadas enquanto polo educativo e cultural junto das novas gerações. Tais dados sugerem a necessidade de uma reflexão conjunta dos vários agentes do terreno no plano central e local, na esfera autárquica e na educativa.
Um destino diferente terão tido os equipamentos da RBE: uma frequência já elevada em 2004 (75% dos alunos afirmavam frequentá-los regularmente) viu-se incrementada em 2013 (entre esta população estudantil, na segunda data de recolha, só cerca de 17 em cada 100 jovens declaravam não ter esse hábito). Tal só pode significar que as bibliotecas escolares se instituíram na cultura quotidiana das escolas secundárias, que aí a aposta foi claramente ganha, que a biblioteca escolar está mesmo no centro da escola e faz parte das suas rotinas. Os próprios padrões de uso revelam essa tendência. Que a representação social da biblioteca escolar se alterou no espaço de uma década é um dado bem visível quando observamos as atividades mais frequentemente ali realizadas. Tal alteração passa, desde logo, por uma diminuição muito acentuada do seu uso escolar (repartido entre pesquisas académicas e realização de trabalhos em grupo ou individualmente), que baixou de 57,7% para 21,9% – em 2013 era, pois, bem maior o equilíbrio entre o académico e o lúdico na fruição da biblioteca da escola, não sendo esta já vista como mera extensão da sala de aula; nela se desenvolviam já muito mais atividades (em torno do audiovisual, do informático) do que anteriormente. Há, porém, alguns dados problemáticos que convém reter e que se situam ao nível dos laços destes espaços com o livro e a leitura mais desinteressada e livre. O facto é que, além de um eventual uso do livro mais diretamente relacionado com as tarefas de estudo, os indicadores de usufruto deste espaço associados a uma verdadeira filiação leitora revelam-se bastante débeis: 4,2% declaravam habitualmente procurar livros por interesse pessoal na biblioteca da escola; 3,3% costumavam passear por entre as estantes para nelas procurar leituras; 3,3% requisitavam habitualmente livros para leitura em casa; e apenas 1,4% tinham por hábito ler livros no espaço da própria biblioteca. A soma de todos estes níveis ficava bem, mas bem mais abaixo dos usos digitais, audiovisuais ou de mera sociabilidade desenvolvidos no equipamento da RBE.
3. O caso exemplar de uma região de risco leitor adolescente e a necessidade de investigação e de ações promotoras da leitura
As informações apresentadas permitem concluir por uma erosão da leitura de livros (e da preferência por esta) em contexto de lazer, conclusão que alinha, justamente, com a maioria das conclusões da investigação internacional (Christin & Donnat, 2014; Griswold, 2007; Wennekers, Huysmans & Hann, 2018) e nacional (Freitas et al., 1997; Lages et al., 2007; Santos et al., 2007) no estabelecimento do conceito de risco leitor. São pois bastante fracas em contextos desta natureza as possibilidades de formação de uma classe leitora, de acordo com a formulação de Griswold, McDonnel e Wright (2005) – assente que é na tripla condição de manutenção de práticas leitoras de maior intensidade, de uma relação sólida com a imprensa escrita e de uma escolha leitora mais criteriosa; opinião, aliás, secundada por Neves (2015) no que concerne ao Portugal contemporâneo e que pensamos ser transferível para o caso aqui tratado, no que dela pode ser aplicado à hipótese de formação no plano regional de uma classe leitora juvenil.
Este estudo de caso parece-nos exemplar de um contexto em que a leitura enquanto prática cultural se encontra em risco, não descolando significativamente das ações leitoras propostas pelos estudos, ocupando na panóplia de práticas adolescentes um espaço quase marginal e apresentando pouca probabilidade de, terminado o tempo de vida passado nos bancos da escola, se consolidar nos ritmos do quotidiano.
Estes contextos de risco leitor necessitam, a nosso ver, de:
A Associação Andante[6] tem vindo, desde 1999, a procurar ganhar novos públicos para a poesia, a prosa, o teatro, a escrita, a voz, a leitura e as suas vozes; e tem feito esse caminho especialmente em escolas e equipamentos de leitura pública de norte a sul de Portugal, usando a imagem, o som, a palavra, o teatro, usando o próprio livro como sua pedra de toque. Tem desenvolvido esse trabalho com base nos possíveis diagnósticos que a investigação nacional e internacional lhe vai fazendo chegar, pretendendo não só cativar para o livro aqueles que já o amam, mas também aqueles para os quais ele é um objeto raro do dia a dia, um objeto intimidante, perigoso, desconhecido. A leitura em risco é sempre o horizonte do seu trabalho e os contextos de leitura em risco o seu território de aventura.
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NOTAS
[1]O investigador prevê regressar ao terreno em 2023 para, no mesmo conjunto de estabelecimentos de ensino, completar um panorama do conhecimento de duas décadas de práticas juvenis de leitura num distrito português do interior.
[2]Consultar o seu site no seguinte endereço eletrónico: https://literacytrust.org.uk/
[3]Ver o programa “Les Pratiques Culturelles des Français”, com resenhas consultáveis, no seguinte site: http://www.pratiquesculturelles.culture.gouv.fr/08resultat.php
[4]Estes dois últimos painéis em Portugal careceriam de uma atualização para a presente década, sem a qual não podemos desenhar linhas evolutivas de grande alcance nem para as práticas leitoras dos portugueses nem para aquelas das faixas etárias mais jovens.
[5] Ver a esse respeito todas as orientações e recomendações da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 1999, 2002, 2015, 2017).
[6] Para o seu historial, consultar o site seguinte: https://www.andante.com.pt/