ISBN: 978-989-783-165-2
Edição: agosto de 2021
Editor: Relógio d'Água
N.º de páginas: 112
Para nós, filhos e netos de séculos de escrita, ler converteu-se numa função quase física, um automatismo, e o livro, ao alcance das nossas mãos desde o primeiro dia de escola, é visto como uma coisa natural que nos acompanha, que faz parte do ambiente que nos envolve (…).
Stefan Zweig, Encontros com livros
Encontros com Livros é uma seleção de ensaios e prefácios da autoria do austríaco Stefan Zweig, escritos entre 1902 e 1939, na qual o leitor é convocado para um diálogo com o passado, nomeadamente com a vida e a obra de grandes escritores e com alguns dos seus livros.
Stefan Zweig foi um apaixonado pela literatura e pelos livros, como nos é desvendado no primeiro ensaio desta seleção. Ao longo da leitura do texto, o leitor torna-se cúmplice desta relação íntima com os livros, são eles que permitem a evasão do enclausuramento, a conquista da liberdade e do conhecimento.
Tudo começa com a evocação das memórias de uma viagem, num navio italiano, onde conheceu um “rapaz de uma beleza escultural, inteligente, dotado de graça e de verdadeiro talento para o convívio humano que pertencia estatisticamente ao número dos sete ou oito por cento de indivíduos da sua nação que não sabiam ler.” Um analfabeto. Um europeu que nunca lera um livro. O espanto foi enorme. “Como seria não saber ler?” É difícil imaginar a vida de alguém que, numa livraria ou quiosque, pegue num livro ou num jornal e não saiba o que dizem. Stefan Zweig deambula entre pensamentos em torno do benefício de ler, do intemporal e indestrutível objeto que é o livro enquanto instrumento de conhecimento e aperfeiçoamento, e dos momentos de felicidade que os livros lhe proporcionaram.
Ao longo da leitura dos três textos dedicados a Goethe, o leitor fica a conhecer algumas das razões a considerar na escolha da melhor edição, a “mais perfeita, a mais pura, a mais clara e universal”, da obra de uma das mais importantes figuras da literatura alemã. O leitor tem a oportunidade de acompanhar o pensamento de Zweig sobre os segredos da poesia de Goethe, (re)descobrindo na sua arte e vida as verdadeiras e únicas emoções.
Juntamente com Thomas Mann, de quem aliás era amigo, Zweig foi na sua época um dos escritores mais lidos no mundo germanófono. E partilha com o leitor o elogio à escrita de Mann, nomeadamente na obra Lotte em Weimar, “em que a qualidade intelectual e a perfeição artística são as de uma obra-prima, talvez o seu romance mais conseguido, sem desprimor para Os Buddenbrook, A Montanha Mágica e a epopeia José e os seus Irmãos.”
A interpretação de Zweig de As Mil e Uma Noites é aliás, por exemplo, objeto da análise de Pedro Mexia (Jornal Expresso – Revista, 04/02/2022), devido ao foco que Zweig consegue imprimir ao longo deste ensaio, lendo-o “não à luz da efabulação romanesca, mas das motivações dos protagonistas: a infidelidade, a misoginia, a vingança, a redenção”.
Encontros com livros permite ainda ao leitor refletir, a partir do olhar de Zweig, sobre a arte da escrita de outros autores, tais como Heinrich von Kleist, Sigmund Freud e Honoré de Balzac.
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