ISBN: 978-989-96513-5-7
Edição: fevereiro de 2019
Editor: Nós em linha
N.º de páginas: 75
Num tom autobiográfico, Razões para Escrever relata episódios do ofício, da arte e do amor da palavra escrita. “O meu campo são as palavras”, escreve Margarida Fonseca Santos no início do livro, aconselhando o leitor a brincar com as palavras. Arrumá-las, desarrumá-las e voltar a arrumá-las numa folha branca. Os desafios para participar nesta brincadeira são partilhados no blogue da autora – 77 Palavras -, assim como em formações, cursos de escrita, encontros e seminários. O valor dos desafios de escrita reside no entusiasmo e na recuperação do gosto pela escrita. Não são dadas receitas, apenas palavras. O repto é brincar. Neste jogo, as regras rígidas da gramática, da sintaxe são desafiadas para que o leitor, o aprendiz de escrita, o 'brincador' de palavras, saia da sua zona de conforto e aceite a provocação de produzir textos e experimentar situações diferentes, criando novos mundos onde o imperativo é escrever, escrever, escrever. A palavra torna-se num bem cada vez mais apreciado e os leitores, mais exigentes e cada vez melhores leitores.
Escrever para quê? Escrever para contar e recontar o que se viveu ou imaginou, para partilhar emoções, para dar vida a outros mundos e personagens. Margarida Fonseca Santos, neste seu livro, acrescenta que “a escrita se apresenta como uma forma de poder falar do mundo, das pessoas, da política, da sociedade e das suas injustiças, das histórias de coragem e de perda, do sonho e da realidade, e da intimidade dos dias”. Escrever para quê? Para estruturar o pensamento, comunicar de forma mais eficaz, para escrever melhor, com mais emoção, apropriação, originalidade e rigor.
Para melhor venerar a palavra escrita, é essencial sublinhar o papel importantíssimo da edição de texto – ou seja, eliminar “tudo o que está a mais: retiramos os tiques de escrita, as palavras que tingem os textos, escolhemos o que se diz e o que se esconde”. O trabalho de edição dá a garantia de qualidade. Em Razões para Escrever, a primeira regra para brincar é “desbloquear”. Os exercícios de desbloqueio da escrita apelam à imaginação e à criatividade, à flexibilidade de pensamento, a ultrapassar obstáculos, como, por exemplo, escrever um texto com um número predefinido de palavras por frase, evitando o uso de determinada letra, entre outras provocações que obrigam a escrever, cortar, substituir, apagar e voltar a escrever. Inicia-se uma nova práxis. Desviados do trilho habitual, aprendemos a escrever de uma nova forma.
O incentivo à escrita só faz sentido se houver incentivo à leitura. Ler, ler muito. Não chega ler por ler, é preciso saber ler bem, não ler sempre a mesma coisa. Quanto mais livros se leem, melhor se escreve e mais se amplia o amor pela palavra escrita. Ler em voz alta é a consciencialização da força das palavras, dando vida às memórias, tornando as emoções mais ternas ou ampliando os gritos de socorro. A autora intensifica o poder da leitura em voz alta afirmando que este tipo de leitura "não serve apenas para a libertação de emoções de todo o tipo: é também a consciencialização do texto produzido e que, na leitura interna, pode não se ter sentido com a mesma dimensão.”
A escrita deveria ser incentivada ao longo de toda a vida escolar dos jovens, pois é o ato de escrever que faz a ponte com a leitura. Quanto mais se ouve contar histórias, maior é a curiosidade de ler; quanto mais se experimenta escrever de forma divertida, mais se valoriza o texto dos livros e dos nossos próprios escritos. Razão pela qual Margarida Fonseca Santos recomenda aprender com os outros, envolver-se na escrita dos outros, “ouvir ler, apreciar o que os outros fizeram sem ter sempre um fantasma irritante a ditar-nos «olha, este faz melhor do que eu, que raiva!»” – só assim produziremos textos cada vez melhores. Ler e escrever ajudam-nos a crescer, a formarmo-nos como pessoas. São atividades que dão gozo. É aí que reside o segredo.