ISBN: 978-989-8863-05-8
Data de edição: maio de 2017
Editor: Fundação Francisco Manuel dos Santos
N.º de páginas: 108
Inês Fonseca Santos, neste livro, conversa sobre a escrita com onze escritores portugueses. E o título, jogando com a ambiguidade da palavra pena, como o célebre poema de Camões, faz-nos refletir sobre o trabalho, o “sofrimento” do escritor. E pergunta se a pena compensa.
Afonso Cruz, Álvaro Magalhães, António Cabrita, António Mega Ferreira, Catarina Sobral, Hélder Macedo, Luís Quintais, Mário de Carvalho, Miguel Real, Patrícia Portela e Paulo José Miranda são os interlocutores. Mas muitos outros escritores são chamados à conversa, como, por exemplo, Manuel António Pina, Herberto Hélder, Alberto Manguel, Virginia Woolf e Italo Calvino.
Vale a pena? questiona sobre os modos de olhar/imaginar o mundo, os modos de criar, as condições em que os autores criam. O que é o intelectual? O escritor cuja voz ressoa na sociedade, onde está, qual é o seu lugar hoje? E a questão da «literatura de distração»? É tudo literatura? E o leitor, aquele que faz o livro com o escritor, mudou com o tempo? O que é feito da curiosidade e do espírito crítico?
Conversa-se, por exemplo, sobre as condições físicas em que os escritores criam, que vão desde «um quarto só para si», como Catarina Sobral, ao autocarro ou à fila da mercearia, como Afonso Cruz.
E o mundo? E os outros? Diz a autora: «No fundo, nenhum escritor quer ser como um desses astrónomos de que falava Jorge Luis Borges: astrónomos que nunca fitaram o céu.» Para Luís Quintais, a voz do escritor «alimenta-se sempre de mundo» e Mário de Carvalho concorda: «O sábio fechado no seu gabinete e a viver de maçãs ou coisa parecida não me parece que contribua para a vida. […] É preciso andar pelo mundo, contactar com os outros.»
Também para a questão de a escrita (literária) poder ou não ser uma profissão, Inês Fonseca Santos recebeu respostas muito variadas, dada a natureza da escrita e as especificidades de cada escritor: uns são mais disciplinados, outros menos, uns precisam de horários, outros não podem tê-los, uns têm uma rotina, outros privilegiam o impulso criativo…
Onde se formam os escritores? A resposta, unânime, é: «Formam-se na escrita e na leitura.» E Mega Ferreira acrescenta: «A escrita é sempre tudo aquilo que lemos mais a diferença.». Os cursos de escrita criativa, que agora proliferam, dão um conjunto de conselhos básicos, podem constituir guias úteis, mas «são coisas que nós adquirimos com a leitura e com a prática. E com revisões.», comenta Hélder Macedo. Não formam um escritor: segundo António Cabrita, «Uma certa técnica pode aprender-se, mas a densidade, o talento, a inquietação, a necessidade abissal de dotar o caos com um sentido que dignifique e dê mais concreção à vida, isso é conquistado e não ensinado». E acrescenta: «Os escritores formam-se, a maior parte deles, na arte da resiliência face a uma ferida que os traumatizou. Isso não se aprende nem é transmissível.»
Em relação à necessidade de reconhecimento imediato que alguns jovens escritores parecem manifestar, discute-se se o escritor é um corredor de 100 metros ou um corredor de fundo, para se concluir que «não pode ser senão um paciente e empenhado corredor de fundo.» Volta-se aqui à questão da sobrevivência do escritor que, se não consegue viver da escrita, é obrigado a uma “vida dupla”, a ter outra profissão para pagar as contas e escrever. Também neste domínio as experiências variam, até porque há escritores, como Mário de Carvalho, que sempre quiseram ter outra atividade além da escrita. No debate sobre se um autor deve vender o suficiente para poder viver da sua obra, Patrícia Portela, que leva uma vida não dupla, mas tripla, assume: «A ideia de que o sucesso de um escritor está intimamente ligado ao número de vendas assusta-me simplesmente porque a compra de um livro por alguém não é garantia da sua leitura nem do impacto da mesma na sociedade. Os livros não são pacotes de batatas fritas com prazo de validade. Os livros são bocados de carne de uns que invadem as vidas de outros. […] Quem se dedica a este ofício é certamente louco, e tem também costela de missionário. Só por isso deveria ter o direito de existir, ter teto, roupa lavada e comida na mesa. De muito mais não precisa.»
Então, mas Vale a pena? No capítulo final, Luís Quintais, reproduzindo palavras de Herberto Hélder, diz que «o livro (e o livro seria aqui metáfora da literatura, metáfora da poesia) é uma máquina de interrogar.». Assim, não poderíamos esperar obter uma resposta cabal à pergunta do título. Inês Fonseca Santos, aliás, escolheu «conversar com escritores que respondem às perguntas com outras perguntas». Os tempos «vão difíceis para a literatura. E para o resto, também, não é?», pergunta Álvaro de Magalhães. E continua: «O que faz um escritor neste contexto? Tudo o que um escritor pode fazer: escreve.»
E o livro termina com um excerto de um poema, uma interrogação, de Manuel António Pina.