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O Vício dos Livros
O Vício dos Livros
Afonso Cruz

ISBN: 978-989-784-197-2

Edição: abril de 2021

Editor: Companhia das Letras

N.º de páginas: 128

 

“Qualquer leitor apaixonado encontra um momento entre trabalhos e tarefas para abrir um livro, caminha enquanto lê, lê nos transportes, lê enquanto almoça, lê na casa de banho, lê antes de dormir.”

O Vício dos Livros reúne cerca de trinta textos sobre a leitura e o amor aos livros, mas também sobre curiosidades literárias, reflexões e memórias pessoais. Por vezes num tom autobiográfico e confessional, dá ao leitor a liberdade de pular de texto em texto, vagueando por diferentes geografias, livros, escritores e leitores. A paixão pelos livros, o prazer de ler é transversal a todos os textos, não esquecendo a referência a esses espaços incríveis que são as bibliotecas, ao poder da leitura, entre outras matérias afins.

Bibliotecas.

“Na biblioteca do faraó Ramsés II estava escrito por cima da porta de entrada: «Casa para terapia da alma». É o mais antigo mote bibliotecário”.  

Mais do que um terapeuta, hoje, o bibliotecário é um curador. A curadoria permite cuidar e simultaneamente fazer uniões, abrir novas possibilidades ao diálogo com diferentes gentes, tempos e espaços. O bibliotecário, enquanto curador, oferece ao leitor a experiência incrível de viver múltiplas vidas, aventuras e desventuras.  Ao longo do livro, Afonso Cruz refere diferentes bibliotecas, as que se perderam, as que são ao ar livre, como a da Rua Al-Mutanabbi, em Bagdade, as bibliotecas enquanto "autobiografias" dos seus donos, recordando uma ideia de Borges, ou as bibliotecas que existem dentro de cada um de nós, reveladas no adágio africano "Quando morre um velho, desaparece uma biblioteca".

Entre livros e estantes, entre a ordem e o caos, há sempre o acaso, o fortúnio de (re)encontrar um livro, tal como o autor encontrou A Brincadeira A Louca da Casa, ou como um jovem jornalista colombiano encontrou O Pintor debaixo do Lava-Loiças.

Leitura(s).

Ler um livro é ato único, individual e, muitas vezes, solitário, mas simultaneamente é “um diálogo entre autor e leitor e […], se não houver um abalo qualquer naquele que lê, então tudo terá sido em vão.” A leitura é um ato transformador, revigorante e com reflexo na vida coletiva, na forma como pensamos e agimos. Novas descobertas linguísticas, mapas mentais readaptados, sensibilidades aguçadas são algumas mudanças que a leitura provoca em nós, enquanto ávidos leitores. Afinal, “os livros que lemos construíram-nos, constroem-nos, construir-nos-ão.”

O autor deste livro socorre-se da obra de Elias Canetti A Consciência das Palavras para sublinhar a importância da transformação que advém da leitura, neste caso, a transformação poética como a “única e verdadeira via de acesso a outro ser humano.”

Nem todas as pessoas se relacionam com os livros e com a leitura da mesma forma.  Se para uns o vício dos livros é paixão, entusiasmo, exaltação, para outros não há lugar para tal vício, pois o tempo escasseia.

Tempo.

Os livros são pacientes. Resignados à espera, ao momento em que o leitor decide lê-los.  O livro pede atenção total e exclusiva. É necessário tempo para ler e reler. Respirar. Pensar. Usufruir da experiência incrível que é ler. Quem verdadeiramente sente prazer na leitura luta contra o tempo, procurando todos os momentos disponíveis para ler, de modo a saciar o vício, pois sabe que a “leitura é um processo lento e muitas vezes ciumento, possessivo. (…) outras atividades não têm tantos ciúmes e permitem-nos realizar várias ao mesmo tempo (cantarolar, dançar, pensar e cozinhar, por exemplo, podem coabitar na mesma pessoa e no mesmo espaço e tempo). Muitas vezes, ler exige silêncio e recolhimento”. Uma espécie de oração, segundo Christian Bobin, mas também de libertação.

Liberdade.

Afonso Cruz partilha o encontro com uma escritora, famosa no mundo árabe, que lhe confessa “Comecei a ler e libertei-me”, após ter posto fim a uma década de casamento. Haverá alguém mais livre do que um leitor? Só a leitura possibilita o encontro com a verdadeira essência da liberdade: sonhar sozinho sem nunca estar só, escolher entre múltiplas possibilidades, salvar as histórias que se estragam, sufocar de prazer ou sofrer até enlouquecer, avançar ou recuar no tempo, vacilar entre a ficção, o ensaio ou a poesia.

Ser livre de escolher e ser escolhido. 

O Vício dos Livros é uma ode aos leitores e um belíssimo livro para quem não pode viver sem livros.

 

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